segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Gosto muito mais de mim

A música da comunidade, é a catarse de todos os sentimentos do próprio ser humano, dessa maneira ao longo dos anos nas comunidades de favela brasileiras, vemos o movimento do funk como instaurador de diversas realidades. Aquelas de combate, de denuncia, de revolta, de protesto, a partir daí se funda um universo de passagens para o funk melodi e o próprio funk ostentação. Mas o foco de nosso filme concentrar-se-á na sexualidade envolvida no funk, e mais, de que modo a mulher busca através do funk uma nova postura feminista. Assim, podemos desenvolver esse tema da sexualidade através da mulher que levanta novas bandeiras, como por exemplo: trair da mesma forma que o homem, transar da mesma forma que o homem. Levantando a bandeira dos direitos iguais para homens e mulheres, sempre retratando a realidade da mulher que é traída, que apanha do seu companheiro, que sofre e que precisa se libertar, precisa se vingar.
O filme não tem a pretensão de dizer a verdade que se passa na vida dessas mulheres, muito pelo contrário, queremos apenas mostrar um recorte de suas vidas. Com as ideias e as diferentes concepções da realidade que cada uma traz, que cada uma expõe em sua fala. Nossa intenção é de demonstrar a possibilidade de um novo olhar em direção a vivências diversas, sem pré-julgar de bom ou mal, belo ou feio.
Aproveitem!

Quero críticas depois!


domingo, 13 de outubro de 2013

Laranja Mecânica: a violência da sociedade + Curiosidades

Com seu livro, satírico, ultra-violento e pornográfico “Laranja Mecânica” de 1962, Anthony Burgess proporcionou a Stanley Kubrick mais uma de suas obras-primas. Laranja Mecânica chegou aos cinemas em 1971, narrando às desventuras do carismático sociopata, Alex (Malcolm McDowell) e seus droogs (Pete, Georgie e Dim) em uma Grã-Bretanha distópica e brutal.
Na época do lançamento a obra assustou, chegou a ser proibida, e deixou de ser exibida em muitos países, mas ao mesmo tempo foi elogiada pelos críticos. Kubrick sabia exatamente o que estava fazendo. A questão da violência naturalizada no filme é posta em questão tanto de forma social quanto psicológica.
Somos transportados para a mente do sujeito mais irado com tudo, completamente cínico, e dono de suas próprias razões.  Ele espanca, estupra e está para além de qualquer regra social. Alex é um ser amoral, que desconhece as mínimas e convenientes regras da sociedade. Alex é um jovem infrator que sai com sua gangue nas noites para aterrorizar mendigos, estuprar mulheres casadas e espancar seus maridos. Nos intervalos o grupo descansa em um bar, no qual tomam leite (ultraviolencemilk) emergindo dos seios de uma boneca metamórfica.
No entanto, em uma de suas aventuras, Alex é traído por seus companheiros da conceitual ultraviolência, e é pego pela polícia. Na prisão, converte-se à religião, e transforma-se numa espécie de aprendiz dos bons e respeitosos costumes, pela influência do padre/pastor/bispo do local.
Assim, ele se vê com a oportunidade de participar de um teste, uma cura, que traz de volta os conceitos morais e a saúde mental dos pacientes infectados pela doença social da revolta e da "consciência defeituosa" (o Método Ludovico). Alex se entrega a chance sair daquela teia de repressão psicológica. No entanto, o tratamento que ele passa é bem mais violento que qualquer um de seus atos cometidos anteriormente. As sequências do "cinema moral", a camisa de forças, os grampos que mantinham os olhos “glases” de Alex abertos todo o tempo, para não evitar que visse nenhuma das cenas. São uma comprovação da brutalidade e de uma tentativa de curar violência com mais violência.



A proposta de evidenciar essa cura, no "teatro de tentações", é extraordinariamente eficiente no que concerne identificar, através dos significados da pessoa doente, a devolução, ou reestruturação dos seus conceitos como pessoa pronta a residir no meio social. “O que importa é que funciona!”
Os diálogos construídos, a destreza dos ângulos (belamente fotografados), os cortes, a trilha e a magnífica interpretação de McDowell são primordiais para sustentar a proposta do filme. Laranja Mecânica como nenhum outro filme, delata a contribuição do homem como o simples e corrigível culpado de seus atos. Declarar a cura desses indivíduos por um tratamento tão doloroso quanto, é bem mais amargurante do que aceitar as disposições que assolam a sociedade de crime e porventura o castigo de suas colaborações em dignificar essas relações de culpabilidade.
O filme é tão impactante, pois modifica nossas visões morais. Kubrick é capaz de transformar uma cena de brutal violência, deixando-a encantadora e bela. Ao utilizar Beethoven na trilha sonora e abusar de cores e ângulos únicos, o diretor nos leva para um mundo que está fora de nossa realidade. Provocando uma oscilação de sentimentos inigualáveis, nos fazendo pensar sobre as falidas instituições da família, da política, da ciência, da religião e do próprio homem corroborado pelos sentimentos e prazeres passageiros. O mesmo prazer que leva à desconstrução de seu próprio Eu.

Agora algumas curiosidades sobre o filme:

O Korova Milk Bar foi o único set construído especialmente para o filme. Foi batizado pela palavra russa para vaca e suas esculturas foram baseadas no trabalho do escultor Allen Jones (uma as pinturas da parede apareceria novamente em O Iluminado, 1980). Stanley Kubrick fez com que os dispensers de leite fossem esvaziados, lavados e reabastecidos a cada hora, pois o leite coalhava sob as luzes do estúdio.


Alex cantar "Singing in the Rain" enquanto ataca o escritor e sua esposa não estava no roteiro. Kubrick passou quatro dias experimentando com a cena, pois a julgava muito convencional. Eventualmente, pediu a Malcolm McDowell se ele poderia dançar. Eles fizeram a cena novamente, desta vez com McDowell cantando e dançando a única música que ele conseguira lembrar na hora. Kubrick ficou tão impressionado que logo comprou os direitos do tema de Cantando na Chuva por US$ 10 mil. Quando McDowell encontrou Gene Kelly, anos depois, em uma festa, o ator veterano se retirou indignado. Kelly teria ficado profundamente decepcionado com a forma como sua versão de "Singing in the Rain" foi usada em Laranja Mecânica.
Kubrick pediu ao Pink Floyd para usar "Atom Heart Mother", faixa que abre o álbum hômonimo da banda, na trilha sonora. Porém, como o diretor queria uso ilimitado da composição, a banda rejeitou a proposta. Quando Alex visita a loja de discos, é possível ver nas prateleiras a trilha de 2001 - Uma Odisseia no Espaço Atom Heart Mother. Outros discos visíveis na loja são: Lorca, de Tim BuckleyAs Your Mind Flies, do Rare BirdDeja Vu, de Crosby Stills Nash & Young, The Transfiguration Of Blind Joe Death, de John FaheyMagical Mystery Tour, dos Beatles, After The Goldrush, de Neil YoungThe Chicago Transit Authority, do Chicago e In The Summertime, do Mungo Jerry.

Apesar de interpretar um adolescente de 15 anos (17 na última parte) Malcolm McDowell tinha 27 anos na época das filmagens. A língua falada por Alex e seus droogs é o Nadsat, uma mistura de inglês, russo e gírias londrinas.



O médico que acompanha Alex enquanto ele é forçado a assistir filmes violentos é um médico de verdade, presente para assegurar que os olhos de McDowell não secassem. Seus olhos foram anestesiados para que as cenas de tortura fossem filmadas sem tanto desconforto. Ainda sim, suas córneas foram arranhadas pelos grampos de metal.
A acelerada cena de sexo foi filmada em um único take de 28 minutos. Já a cena final do filme foi concluída depois de 74 tentativas.

Na cena em que Alex fala com o padre sobre a terapia Ludovico, é possível ver os prisioneiros marchando em círculo no pátio. A cena recria uma pintura de Vincent van Gogh, Prisioneiros se Exercitando (1890). 


 Enquanto gravava a cena no quarto de Alex, Kubrick achando que faltava um elemento para deixar a cena mais complexa descobriu que o ator Malcolm McDowell tinha medo de cobra. O diretor não pensou duas vezes, e colocou uma cobra como animal de estimação de Alex. A cena ficou mais tensa e vemos também outros elementos articulados à cobra (Basil), a imagem de Jesus dançando ao som de Beethoven. Logo abaixo da imagem da cobra, fazendo uma referencia ao pecado original.