O projeto Encontros-Brasil: Laboratório Internacional de Teatro, Cinema e Direitos Humanos está organizando no primeiro sábado de janeiro dia 05 às 18hs no Palácio Rio Negro a conferência do Professor Dario Viganò, sobre a temática: "A Máscara do Poder: Carisma e Liderança no Cinema" tema de seu último livro. A conferência contará com projeções de imagens e discussões sobre o tema. Dario Edoardo Viganò depois de iniciar seus estudos em Filosofia e Teologia em Milão, obteve a Licenciatura e o Doutorado em Ciências da Comunicação pela Università Pontificia Salesiana. É professor ordinário de Teologia da Comunicação na Università Lateranense, onde é Diretor do Centro Lateranense Alte Scuole; foi Presidente do Istituto pastoral Redemtor Hominis de 2006 a 2012. Ensina Linguagem e mercado do Audiovisual e Teorias e Técnicas do Cinema através do Departamento de Ciências Políticas da Università LUISS “Guido Carli” de Roma, onde é membro do Comitê diretor do Centro de pesquisa Centre for Media and Comunication Studies (CMCS) “Massimo Baldini”. Presidente da Fondazione Ente dello Spettacolo e Diretor da “Rivista del Cinematografo”, além de Presidente da Comissione Nazionale Valutazione Film (CNVF) da Conferenza Episcopale Italiana (CEI). Conselheiro da Administração do Centro Sperimentale di Cinematografia, ligado a Cineteca Nazionale e a Editoria, de 2008 a 2012. É autor de numerosos estudos dedicados à análise da relação entre as mídias e o mundo católico, com especial atenção ao Cinema. Carisma e liderança são tão poderosos, têm tamanha e irresistível atração que às vezes apenas o uso de um simples uniforme pode fazer com que cada um de nós constantemente sinta uma falsa sensação de superioridade. Quando Charlie Chaplin, o brilhante ator que sempre interpretava seus papeis com perfeição, interpretou o papel de um personagem ditador e arrogante, Hynkel, ele ficou maravilhado pelo resultado e deixou um comentário escapar: “É só porque estou usando essa maldita coisa (uniforme) que eu estou me comportando desta maneira”. Cineastas também têm um tipo de “poder”: o poder de guiar o espectador. Esta era a razão, no final da década de 30, pela qual Chaplin se preocupava e se irritava com a propagação da ditadura. Assim, pegou a sua única arma disponível, a comédia, para retratar Hitler durante sua transformação de confiante ultranacionalista ao verdadeiro “líder transformador”, se contaminando com escolhas arriscadas e imorais que mudaram o curso da história. No filme O Grande Ditador, de 1940, o palhaço Carlitos faz o papel de um pobre barbeiro judeu, que por uma curiosa virada do destino é idêntico ao cruel e despótico Hynkel, com o qual foi confundido. A maravilhosa parodia do jeito de falar do Hitler – criado pela mistura sem sentido de sons teutônicos – e a dança do ditador, quase se elevando ao nível de Deus, com o mapa do mundo, opõe se a declaração final do barbeiro cuja alma não mudou apenas pelo uso do uniforme de general. Destinado para aqueles que nem se quer tentaram entender o que está escondido por trás de mitos e propagandas, ele resumiu as esperanças e os medos que o mundo enfrentou na mais terrível guerra já vista. |
"Foi muito mais nos costumes do que nos escritos que os filósofos aprenderam a maior de todas as artes: a de bem viver." Cícero
domingo, 30 de dezembro de 2012
A Máscara do Poder: Carisma e Liderança no Cinema.
terça-feira, 13 de novembro de 2012
Rousseau e a liberdade do homem
Qual
a origem da desigualdade entre os homens? Será ela sancionada pela lei natural? A intenção de responder a estas questões —
que foram propostas, em 1753, pela Academia de Dijon — Jean-Jacques Rousseau, afastando-se
da atividade dos homens em sociedade, buscou o silêncio do campo. Ao distanciar-se
em uma propriedade rural, longe dos confortos da cidade e próximo aos apelos da
natureza. Vivendo um ritmo lento e imemorial em que crescem as plantas e
através do qual desaparecem os animais, o filósofo tentou reviver mentalmente o
estado primitivo da espécie humana. Rousseau buscava pensar a vida humana antes
mesmo do advento das primeiras comunidades organizadas. Tal esforço imaginativo
e criativo resultou uma obra de cunho reflexivo, que provoca inspiração para
todos aqueles que procuram uma saída para as desgraças humanas: o Discurso
sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens.
O homem, animal entre
os animais, cuja vida situava-se como que fora do tempo, em uma comunhão integral
com a natureza. Como animal, era guiado seguramente pelos instintos, e por aptidões
suficientes para suprir as únicas e verdadeiras necessidades: alimentação, impulso
à procriação, e o singelo amor-de-si, que ditava uma espécie
de preservação da própria vida. Ao descrever este estágio da humanidade, Rousseau
diz:
Os únicos bens que [o homem] conhece no universo
são o alimento, uma fêmea e o repouso; os únicos males que teme são a dor e a
fome; digo a dor e não a morte, pois jamais o animal saberá o que é
morrer, e o conhecimento da morte e de seus terrores é uma das primeiras
aquisições que o homem fez, aos se distanciar da condição animal. (Discurso
sobre a desigualdade, Primeira Parte, §18).
As palavras usadas
pelo filósofo nos fazem refletir sobre algumas questões fundamentais, a mais
evidente delas é: de que modo ocorreu este distanciamento? De que maneira tal desligamento
do fluxo natural permitiu o despertar para uma condição que era fundamental ao
homem? Por que o homem é capaz de prever sua destruição iminente na morte? O
animal não sabe o que significa morrer, não pode destacar do momento em que
vive sua própria existência. Como homem, seguindo suas puras disposições
naturais com o auxílio da imaginação, passa a colocar-se no tempo e no
espaço.
A partir daí podemos
notar que o ser natural é aquele em sendo um com a Natureza em
seu conjunto, não podendo separar-se, enfim, em um eu que o
distinga de um outro. Rousseau, caracteriza esta faculdade
especificamente humana, a qual permite fugir à corrente dos instintos, de liberdade.
A liberdade, então, se mostra como um desvio que provoca no homem uma possibilidade
de saída para fora de si mesmo. A liberdade é condição sem a qual, o homem não
seria capaz de progredir e aperfeiçoar-se, mas determina também o afastamento
radical em relação à suas origens, a separação do paraíso terrestre em que se
encontrava inicialmente.
Neste ponto de sua
trajetória, o homem assume completamente a sua própria história e pode dispor
tanto de seu passado (pelo uso da memória) como de seu futuro (no qual é capaz
de projetar-se com as ações que imagina). No entanto para essa tomada de
consciência foi necessário que o homem, partindo de uma vivência simples que se
resolvia quase que imediatamente, se voltasse a um modo de vida mais complexo e
pleno transferindo isso para o meio em que vivia. A exterioridade do contato
direto com as coisas da natureza (e com os outros indivíduos) que não deixava
vestígios, se desdobra em uma consciência cada vez mais complexa e plena do
ambiente que o circundava.
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
Heidegger e o ser-para-a-morte
Segundo Heidegger, o
ser humano é ser como possibilidade, como projeto, essa ideia nos induz na
temporalidade. Isso não significa apenas que temos um passado e um futuro, mas
que o futuro se revela como aquilo para o qual a existência é projetada e que o
passado é aquilo que a existência transcende. O existir humano consiste no
lançar-se contínuo às possibilidades, entre as quais se encontra a
situação-limite representada pela morte. A presença se mostra como ser aberto às possibilidades, e como situação
limite se depara com a morte, aquela possibilidade que dá fim a todas as
outras.
A angústia é o fenômeno privilegiado, gerado pela situação
limite da morte, e conduz o Dasein (presença)
do impessoal para a possibilidade de ser ele mesmo. “A angústia manifesta no
Dasein o ser para o
poder ser mais próprio, isto é, o ser-livre para a liberdade
do se-escolher-e-se-apropriar-de-si-mesmo” (HEIDEGGER citado por DUBOIS). Nesse
sentido, a angústia faz do Dasein um ser de possibilidades; a partir dela ele
se vê livre para escolher-se. Enquanto ser-no-mundo o Dasein é “(…) aquele que
constrói, é aquele que se projeta, é poder-ser, é deixar-ser; é liberdade
enquanto possibilidade” (VALE, 2008, p. 25). “Para Heidegger é indiscutível que
o dasein autêntico necessita estar angustiado” (MALLMANN, 2008, p. 62).
A angústia é o movimento que dá origem a
vida autêntica, transformando e modificando o ser-aí. Fazendo com que o sujeito
tome as rédeas da própria vida, fazendo o seu caminho em percorrendo-o, em
transformando-o. É possível que essa consciência de finitude e do ser para a
morte seja condição prévia necessária para uma vida autêntica. Afinal é a
partir da compreensão como ser finito e contínuo as possibilidades, que o homem
pode desenvolver uma vida autêntica. Apesar da dificuldade de viver a
autenticidade da vida humana expressada na angústia.
segunda-feira, 22 de outubro de 2012
Textos filosóficos sobre Ética - Moral - Justiça - Liberdade
SOBRE
A JUSTIÇA
“E justiça é aquilo em virtude do qual se diz
que o homem justo pratica, por escolha própria, o que é justo, e que distribui,
seja entre si mesmo e um outro, seja entre dois outros, não de maneira a dar
mais do que convém a si mesmo e menos ao seu próximo (e inversamente no
relativo ao que não convém), mas de maneira a dar o que é igual de acordo com a
proporção; e da mesma forma quando se trata de distribuir entre duas outras
pessoas”. (ARISTÓTELES. Ética a
Nicômaco. Tradução de Leonel Vallandro e Gerd Bornheim da versão inglesa de
W. D. Ross. São Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 89.)
SOBRE
A ÉTICA E A POLÍTICA
“Aristóteles subordina o bem do indivíduo ao
Bem Supremo da pólis. Esse vínculo interno entre ética e política significava
que as qualidades das leis e do poder dependiam das qualidades morais dos
cidadãos e vice-versa, isto é, das qualidades da cidade dependiam as virtudes
dos cidadãos”. (CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo, Editora
Ática, 2003, p. 360.)
SOBRE
A JUSTIÇA E A INJUSTIÇA
“Dizem que uma injustiça é por natureza um
bem, e sofrê-la, um mal, mas que ser vítima de injustiça é um mal maior do que
o bem que há em cometê-la. De maneira que, quando as pessoas praticam
ou sofrem injustiças umas das outras, e provam de ambas, lhes parece vantajoso
(...) chegar a um acordo mútuo, para não cometerem injustiças nem serem vítimas
delas. Daí se originou o estabelecimento de leis e convenções entre elas e a
designação de legal e justo para as prescrições da lei. Tal seria a gênese e
essência da justiça, que se situa a meio caminho entre o maior bem – não pagar
a pena das injustiças – e o maior mal – ser incapaz de se vingar de uma
injustiça. (...) Aqui tens, ó Sócrates, qual é a natureza da justiça, e qual a
sua origem, segundo é voz corrente”. (PLATÃO. A República. Trad. de
Maria Helena da Rocha Pereira, Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1987, p.55-56;
359a-b)
SOBRE
A LIBERDADE
“Para a voz corrente é muito simples: ser
livre é poder fazer tudo o que se quer, como se quer, quando se quer [...].
Infelizmente, não existe [...] sociedade humana que permita fazer tudo o que se
quer. Existem sempre motivos (‘razões’) ou causas [...] que ‘determinam’ a
nossa ação. [...]. Refletindo sobre a liberdade Rousseau chegou a seguinte
conclusão: ‘A obediência à lei que se estatuiu a si mesmo é liberdade’. Ou
seja, a liberdade consistiria não em recusar obedecer, negar os
constrangimentos e rejeitar as determinações, mas sim em assumi-las plenamente,
tentando refletir antes de agir, ajuizar o mais lúcida e racionalmente
possível, para não cair em excessos de toda a ordem.” (HUISMAN, Denis. A
Filosofia para principiantes. Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1983, p. 64 a
68, Texto adaptado.)
SOBRE
O VOTO OBRIGATÓRIO
“Em minha opinião, o voto livre deve ser
defendido por razões filosóficas. (...) Ao tornar o voto obrigatório, de algum
modo é reduzido o grau de liberdade que existe por trás da decisão espontânea
do cidadão de ir à seção eleitoral e escolher um candidato. Podemos afirmar que
o voto obrigatório, constrangido pela lei, não é moral se comparado ao sufrágio
livre, resultado da deliberação de um sujeito autônomo. E, para Kant, há uma
identidade entre ser livre e ser moral.” (Autor desconhecido – texto
sobre a moral kantiana.)
domingo, 21 de outubro de 2012
Que é esclarecimento?
Na obra Resposta à Pergunta: Que é “Esclarecimento”? [“Beantwortung der Frage: Was ist Aufklärung?”], de 1784, Immanuel Kant sintetiza a confiança desta época na razão (contexto da Revolução Francesa). De acordo com este texto “o Esclarecimento é a saída dos homens da menoridade da qual eles mesmos são culpados." Menoridade é a incapacidade de servir-se de seu entendimento sem a tutela de outrem, inicia seu discurso definindo menoridade como sendo a incapacidade do homem em fazer uso do seu entendimento sem direção de outro indivíduo. Depois, ele define esclarecimento como sendo a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado, segundo Kant.
O homem é culpado de sua menoridade porque já se libertou dos seus instintos animais (“direção estranha”), podendo fazer uso do seu entendimento. Logo, o que o leva ao não esclarecimento é a preguiça e a covardia, por ser mais cômodo ser menor.
Desta forma, o homem entrega o seu esclarecimento à tutores, que, depois de embrutecerem seus "pupilos" e cuidadosamente tê-los preservado a fim de não ousarem "andar" sozinhos, mostram-lhes em seguida o perigo que os ameaça se tentarem. "Andar" seria fazer uso do seu próprio entendimento, revelando uma forte analogia com o mito da caverna de Platão.
Esses "avisos" tornam o homem tímido e temeroso, sendo difícil para ele desvencilhar-se da menoridade, que para ele já se tornou quase uma natureza, chegando mesmo a criar amor a ela. Esse sufocamento por parte dos tutores é feito por preceitos e fórmulas, que são os grilhões de uma perpétua menoridade.
Se a verdadeira liberdade fosse dada, é quase inevitável que um público se esclareça. Tais indivíduos, libertos da menoridade, espalhariam ao seu redor o espírito de uma avaliação racional do próprio valor e da vocação de cada homem em pensar por si mesmo, o espírito do esclarecimento.
Certamente, haverá obstáculo para o esclarecimento geral por parte do próprio público, quando incitado por alguns dos seus tutores ainda não esclarecidos, objetivando manter a ordem vigente. Se um desses tutores se esclarecesse, também seria vítima de seus próprios preconceitos anteriores.
Por isso, um público só muito lentamente pode chegar ao esclarecimento. Kant então conclui, de uma forma bastante interessante, que uma revolução poderia talvez realizar a queda do despotismo pessoal ou da opressão da ordem vigente, porém nunca produziria a verdadeira reforma do modo de pensar, necessária para o esclarecimento geral. Apenas novos preconceitos servirão para conduzir a grande massa "destituída de pensamento", constituindo uma forte crítica à filosofia comunista-marxista.
Nesse momento, Kant define o uso público e o uso privado da razão. O uso público é aquele que qualquer homem, enquanto sábio, faz da sua razão diante do grande público do mundo letrado. O uso privado é aquele que o sábio pode fazer de sua razão em um certo cargo público ou função a ele confiada.
No uso privado, o sábio deve seguir as normas a que esta subordinado pelo cargo, podendo dar conhecimento de suas idéias ao público, mas desde que estas não entrem em conflito com tais normas. Isso se torna um absurdo, pois o fato dos próprios tutores do povo serem eles mesmos menores resulta na perpetuação dos absurdos. Kant critica a censura pelo poder e o apoio ao despotismo espiritual (pela igreja) contra os súditos, dificultando ainda mais o esclarecimento.
O autor então dá pistas de como poderia ser uma constituição religiosa não fixa, onde homens, na qualidade de sábios, pudessem fazer seus reparos publicamente a possíveis defeitos nas instituições vigentes. Essas últimas manteriam-se intactas até o completo entendimento de tais reparos.
Kant afirma que não estamos em uma época esclarecida, mas em uma época de esclarecimento, pois falta muito para que os homens em conjunto sejam capazes de fazer uso público de suas razões.
Os homens se desprendem por si mesmos progressivamente do estado de selvageria, principalmente quando o regime vigente dá liberdade em matéria religiosa; mas esse processo é lento e muito difícil. Kant dá ênfase à matéria religiosa como ponto principal do esclarecimento, porque "no que se refere as artes e ciências nossos senhores não têm interesse em exercer tutela sobre seus súditos", além de que a menoridade religiosa é a mais prejudicial e desonrosa.
Kant então finaliza o seu discurso, de uma forma brilhante, lembrando o rei filósofo de Platão, e a complementaridade entre o Antigo Testamento, da ordem e obediência, e o Novo Testamento, da verdade e liberdade.
Ele justifica que um monarca esclarecido, chefe de um poderoso e disciplinado exército pode dizer ao povo o que é praticamente impossível (o que Deus diz ao homem): "Raciocinai tanto quanto quiserdes e sobre qualquer coisa que quiserdes; apenas obedecei".
Kant argumenta que a natureza por baixo desse duro envoltório da ordem dá espaço ao ensejo de expandir a liberdade de espírito do povo e, pouco a pouco, o povo se tornaria cada vez mais capaz de agir de acordo com a liberdade, e o governo (ou regime vigente) acharia conveniente para si próprio tratar o homem, que agora é mais que uma simples máquina, de acordo com a sua dignidade.
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
Qual o custo social do progresso?
Esse foi o vídeo desenvolvido pelos alunos do 2º ano do Colégio de Aplicação da Universidade Católica de Petrópolis para a III Olimpíada Latino Americana de Filosofia.
Vídeo editado com as imagens das entrevistas desenvolvidas no dia 05.09.2012 no artigo publicado abaixo.
quinta-feira, 6 de setembro de 2012
Câmara Municipal De Petrópolis 05.09.2012
Hoje à tarde fui a
Câmara dos Vereadores de Petrópolis com o grupo de alunos. Para realizar
algumas entrevistas, que reunidas formaram um vídeo para apresentarmos na III
Olimpíada Latino-Americana de Filosofia. Chegamos lá por volta das 15 horas e
para a nossa surpresa, de 15 vereadores que compõem a Câmara, apenas um estava
presente. Sabemos que estamos em época de eleição, e muitos vereadores são
candidatos sendo esta uma desculpa, estão em campanha, mas não seria a melhor
campanha estar trabalhando? Mostrando serviço? Realizando e defendendo os
direitos do povo, representando e legislando para o povo?
A Sessão Plenária
começaria às 16, o único Vereador que estava presente não pôde nos receber, pois
estava se preparando para a sessão. Para a nossa ingenuidade ficamos aguardando-os
na entrada principal da Câmara, não sabíamos da entrada privativa. Ainda sim,
subimos para procurá-los, faltando um pouco mais de 10 minutos para começar a
sessão, apenas 5 vereadores já haviam chegado. Antes da Plenária conseguimos
falar com dois vereadores, infelizmente apenas dois tiveram tempo, os outros
chegaram em cima da hora, atrasados, ou chegaram no meio da sessão.
Às 16 horas e 15 minutos
começa a Sessão Plenária na Câmara Municipal, com 5 vereadores. Começa a
leitura dos autos, e mais uma vez ficamos surpresos, o 1º Secretário realiza
uma leitura seca e sem significado. Até para aqueles que prestavam atenção estava
difícil entender o que o vereador estava lendo. O texto continha erros de
concordância, a leitura não ajudava na compreensão. Durante toda a sessão o
Presidente da Câmara mexeu no aparelho celular, atendeu ligações, fez ligações,
entrou até em redes sociais com seu iPad. Vereadores lendo jornal, conversando,
a falta de educação é geral. Ou será que existem assuntos mais importantes para
serem tratados nesse momento aos assuntos da cidade, a legislar? Todos entram e
saem da sessão com exceção do Presidente que só não sai porque está presidindo
a reunião, o mesmo não se mostrou em nenhum momento interessado em discutir
sobre qualquer tema que fosse... Também com exceção do Vereador Silmar Fortes,
que ficou presente durante toda a reunião, discutiu sobre todas as pautas, e se
mostrou realmente interessado do inicio ao fim, parecia até que estava
trabalhando. O que chama muita atenção também é a forma como o Presidente é
tratado, chega a ser irônica diante de sua postura perante todos os presentes.
Depois de testemunhar tanto
descaso, desrespeito para com o cidadão petropolitano, acaba a Plenária. Diante
de tanta indignação, procuramos ainda alguns vereadores para conversar, e realizar
a entrevista. Fomos recebidos pelos vereadores Silmar Fortes e Gil Magno, que
responderam a nossas questões com educação da melhor maneira possível,
assumindo assim uma postura de respeito educação e cumprimento de seus deveres
como vereadores. Já o Presidente se recusou em nos receber alegando uma
proibição legal que o impede de dar entrevistas sendo Presidente da Câmara e
candidato. Que proibição seria esta? Ainda estamos procurando por ela!
Acredito que todos os
cidadãos petropolitanos devem visitar a Câmara Municipal, presenciar tamanha
falta de noção de nossos representantes. Todos devem ver de perto, seja
presenciar uma Sessão Plenária como a de hoje, onde assistimos o “trabalho” de
nossos legisladores, nossos representantes. Seja para fiscalizar se os
vereadores estão na Câmara, trabalhando, fazendo o que nós pagamos para eles
fazerem. Façam isso e escolheram melhor seus candidatos, não votem em nenhuma
campanha, votem no candidato que trabalha de verdade. Não estou fazendo
propaganda para nenhum candidato, minha intenção é mostrar o que devemos fazer
para escolher quem nos represente verdadeiramente!
terça-feira, 4 de setembro de 2012
"Vou dizer-vos as três metamorfoses do espírito: como o espírito se muda em camelo, e o camelo em leão, e o leão, finalmente, em criança.
Há muitas coisas que parecem pesadas ao espírito, ao espírito robusto e paciente, e todo imbuído de respeito; a sua força reclama fardos pesados, os mais pesados que existam no mundo.
'O que é que há de mais pesado para transportar?' — pergunta o espírito transformado em besta de carga, e ajoelha-se como o camelo que pede que o carreguem bem.
'Qual é a tarefa mais pesada, ó heróis' — pergunta o espírito transformado em besta de carga, a fim de a assumir, a fim de gozar com a minha força?
Não será rebaixarmo-nos, para o nosso orgulho padecer? Deixar refulgir a nossa loucura para zombarmos da nossa sensatez?
Não será abandonarmos uma causa triunfante? Escalar altas montanhas a fim de tentar o Tentador?
Não será sustentarmo-nos com bolotas e erva do conhecimento, e obrigar a alma a jejuar por amor da verdade?
Ou será estar enfermo e despedir os consoladores e estabelecer amizade com os surdos que nunca ouvem o que queremos?
Ou será submergirmo-nos numa água lodosa, se esta é a água da verdade, e não afastarmos de nós as frias rãs e os abrasados sapos?
Ou será amar os que nos desprezam e estender a mão ao fantasma que nos procura assustar?
Mas o espírito transformado em besta de carga toma sobre si todos estes pesados fardos; semelhante ao camelo carregado que se apressa a ganhar o deserto, assim ele se apressa a ganhar o seu deserto.
E aí, naquela extrema solidão, produz-se a segunda metamorfose; o espírito torna-se leão. Entende conquistar a sua liberdade e ser o rei do seu próprio deserto.
Procura então o seu último senhor; será o inimigo deste último senhor e do seu último Deus; quer lutar com o grande dragão, e vencê-lo.
Qual é este grande dragão a que o espírito já não quer chamar nem senhor, nem Deus? O nome do grande dragão é 'Tu deves'. Mas o espírito do leão diz: 'Eu quero.'
O 'tu deves' impede-lhe o caminho, rebrilhante de ouro, coberto de escamas; e em cada uma das suas escamas brilham em letras de ouro estas palavras: 'Tu deves.'
Valores milenários brilham nessas escamas, e o mais poderoso de todos os dragões fala assim:
'Em mim brilha o valor de todas as coisas. Todos os valores foram já criados no passado, e eu sou a soma de todos os valores criados.' Na verdade, para o futuro não deve existir o 'eu quero'. Assim fala o dragão.
Meus irmãos, para que serve o leão do espírito? Não bastará o animal paciente, resignado e respeitador?
Criar valores novos é coisa para que o próprio leão não está apto; mas libertar-se a fim de ficar apto a criar valores novos, eis o que pode fazer a força do leão.
Para conquistar a sua própria liberdade e o direito sagrado de dizer não, mesmo ao dever, para isso meus irmãos, é preciso ser leão.
Conquistar o direito a valores novos, é a tarefa mais temível para um espírito paciente e laborioso. E decerto vê nisso um acto de rapina e de rapacidade.
O que ele amava outrora, como bem bem mais sagrado, é o 'Tu deves'. Precisa agora de descobrir a ilusão e o arbitrário mesmo no fundo do que há de mais sagrado no mundo, a fim de conquistar depois de um rude combate o direito de se libertar deste laço; para exercer semelhante violência, é preciso ser leão.
Dizei-me, porém, irmãos, que poderá fazer a criança, de que o próprio leão tenha sido incapaz? Para que será preciso que o altivo leão tenha de se mudar ainda em criança?
É que a criança é inocência e esquecimento, um novo começar, um brinquedo, uma roda que gira por si própria, primeiro móbil, afirmação santa.
Na verdade, irmãos, para jogar o jogo dos criadores é preciso ser uma santa afirmação; o espírito quer agora a sua própria vontade; tendo perdido o mundo, conquista o seu próprio mundo.
Disse-vos as três metamorfoses do espírito: como o espírito se mudou em camelo, o camelo em leão, e finalmente o leão em criança."
Assim falava Zaratustra, e morava nesse tempo na cidade que se chama Vaca Malhada.
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terça-feira, 28 de agosto de 2012
Eterno Retorno
Eterno retorno Ewige Wiederkunft é um conceito filosófico formulado por Friedrich Nietzsche.
Podemos observar nas palavras do filósofo em A Gaia Ciência
"E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez, e tu com ela, poeirinha da poeira!". Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?"
segunda-feira, 20 de agosto de 2012
Baudelaire e a modernidade
Charles-Pierre Baudelaire (Paris, 9 de abril de 1821 — 31 de
agosto de 1867) foi um grande poeta e teórico da arte francesa. É certamente
considerado um dos precursores do simbolismo, mas é reconhecido realmente como
o fundador da tradição moderna em poesia. Como sabemos, a
importância de Baudelaire na tradição literária do ocidente consiste não só na
instauração da Modernidade, mas também em seus conceitos filosóficos e
literários. Que se caracterizam pela dialética de razão e paixão no nível da
estrutura e do sentido da construção poética.
Pode-se indicar a
partir daí, que a busca pela harmonia dessas duas potências extremas,
consideradas estanques durante toda a tradição do pensamento ocidental, a
saber, razão e paixão, é a busca pelo equilíbrio da vida em si mesma. Afinal,
não é possível promover a separação dos contrários em tudo o que se manifesta
no fazer humano e na vida cósmica em geral. Muito pelo contrário, a vida se dá
através dessa tensão, desse devir [1],
dessas essências opostas que vão de encontro uma da outra, daí a necessidade de
vir a ser do homem.
Baudelaire busca o equilíbrio, a junção,
uma espécie de livre jogo [2] entre as duas “pulsões” que pressionam a nossa existência. Ele aplica uma
harmonização de contrários em seu fazer poético, colocando no mesmo patamar
razão e desejo. Podendo assim nos mostrar através de sua arte o que se fazia
presente nos principais conflitos de sua vida. Tais conflitos eram tratados com
muita sinceridade pelo poeta, demonstravam a sua preocupação com a realidade
que estava vivendo, um cotidiano que contrastava com o seu interior.
O poeta confrontou assim, sua
imagem de artista a uma imagem de herói e desde o início uma intercede pela
outra, nos diz Benjamim [3].
Baudelaire era cercado por uma realidade de mudanças tanto na estrutura da
sociedade, como nas necessidades do sujeito. Na da vida urbana, com a
instauração de uma nova ordem burguesa e capitalista, que acabaram por chocar o
sujeito desse tempo. E, enquanto nova ordem era constituída, evidenciava-se no
indivíduo uma nova base de estruturas modernas.
A construção dessa nova
realidade, que além de expor os contrastes sociais, também contrastava o
indivíduo com a multidão, levou o pensamento a outro lugar comum. Pois ao
chegar à rua o sujeito urbano perde completamente sua individualidade e passa a
ser simplesmente mais um na multidão. E o poeta acrescenta na passagem seguinte
uma série de outros detalhes que se passavam.
Não importa o partido a que se pertença é
impossível não ficar emocionado com o espetáculo dessa multidão doentia, que
traga a poeira das fábricas, inspira partículas de algodão, que se deixa
penetrar pelo alvaiade, pelo mercúrio e todos os venenos usados na fabricação
de obras-primas... Essa multidão de consome pelas maravilhas, as quais, não
obstante, a Terra lhe deve. Sente borbulhar em suas veias de tristeza à luz do
Sol e às sombras dos grandes parques. (BENJAMIN, p. 73, 1989)
Após essa passagem o autor assim
coloca: “A Modernidade”. Então presenciamos neste momento a modernização do
comércio que traz para o parisiense mais uma inovação, com galerias e vitrines
iluminadas que ao mesmo tempo expunham a mercadoria e fascinavam aquele que
vagava pelas ruas. E também havia o incrível espaço da reflexão que além de
expor o sentimento de uma era, remontava a antiguidade, exibindo mais uma vez o
frescor do moderno. O que traz à cena o flâneur, muitas vezes retratado nas
obras de Baudelaire. Este errante que se entrega a compulsão de sujeito urbano,
que passeia prazerosamente sem destino pelas galerias e ruas, mas ao mesmo
tempo não perde sua natureza inumana.
Assim ele vai, corre, procura. O que? Certamente
esse homem, tal como o descrevi, esse solitário dotado de uma imaginação ativa,
sempre viajando através do grande deserto de homens, tem objetivo mais geral,
diverso do prazer efêmero da circunstância. Ele busca esse algo, ao qual se
permitirá chamar de Modernidade; pois não me ocorre melhor palavra para
exprimir a ideia em questão. Trata-se, para ele, de tirar da moda o que esta
pode conter de poético e de histórico, e de extrair o eterno do transitório.
(BAUDELAIRE, 1996, p. 25)
Em meio toda essa experiência
nova, onde o sujeito se defrontava com a multidão e com a velocidade de
mudanças na sociedade, Baudelaire viu-se na responsabilidade de refletir sobre
os acontecimentos de seu mundo. Ao trabalhar as transformações o autor traz à
tona contrastes sociais outrora camuflados, expondo a dualidade presente na
arte e na vida.
O poeta afirma que o homem do
mundo, ao contrário de estar submetido a uma área específica, passa a apreciar
assuntos do mundo inteiro. E esse mesmo homem retira da moda atual e de seu
momento histórico o que tem de poético, portanto, retira do transitório o que
tem de eterno para alcançar a essência do belo. “A modernidade é o transitório,
o efêmero, o contingente, é a metade da arte, sendo a outra metade o eterno e o
imutável.” (BAUDELAIRE, 1996, p. 26)
[1] Devir é um conceito filosófico
que diz respeito à mudança constante, a inconstância.
[2] Essa expressão
é usada pelo filósofo Immanuel Kant, na Crítica
da Faculdade do Juízo, quando propõe que o sentimento que envolve a beleza
provoca um acordo entre as faculdades cognitivas do sujeito, a saber,
imaginação e entendimento. O livre jogo é entendido por Kant como a harmonia
presente entre as faculdades diante da beleza. Quando algum objeto é chamado
belo, há um acordo entre as duas faculdades. O entendimento não determina
nenhum conceito, pois afinal não é um juízo de conhecimento, e a imaginação vai
além de um papel pré-determinado pelo entendimento de simplesmente apresentar
uma imagem para algum conceito. Sendo assim, a imaginação é livre e o
entendimento indeterminado, analogamente é o que Baudelaire faz em sua poesia,
harmonizando os conflitos, as paixões e as vontades, com a razão, com a ordem e
a forma. A forma de sua poesia é reta, racional, mas o conteúdo das mesmas se
referem às vontades, aos desejos.
[3] Walter Benjamin foi um ensaísta,
crítico literário, tradutor, filósofo e sociólogo alemão. E tem parte da sua
obra dedicada a Charles Baudelaire, o principal livro chama-se Charles Baudelaire: um lírico no auge do
capitalismo, e é à luz das reflexões de Benjamin acerca de Baudelaire que
vamos analisar a arte literária do poeta.
terça-feira, 14 de agosto de 2012
O Nascimento da Tragédia - Nietzsche
O Nascimento da
Tragédia (Die
Geburt der Tragödie, 1972)
Nietzsche
recuperou dos gregos a oposição entre Apolo e Dioniso: pai das artes plásticas
o primeiro, da arte musical o segundo. Estas divindades personificavam dois
instintos que, antes de se exprimirem na arte, se manifestavam naturalmente no
homem, um no sonho, outro na embriaguez. É o instinto apolíneo que cria o mundo
de sonho e de beleza dos deuses olímpicos. Este mundo não deve, no entanto,
levar a acreditar em uma pretensa serenidade grega. Os gregos tinham, pelo
contrário, uma perspectiva profundamente pessimista da existência, revelada
pelos poemas pré-homéricos. Só puderam viver colocando diante deles um ecrã1 de imagens com a existência triunfante dos olímpicos. Esta criação pode ser
interpretada de um ponto de vista metafísico. O Ser é o “original”, sofrimento
e contradição. Ele tenta libertar-se do seu sofrimento pelo êxtase de uma
visão, que constitui a “aparência”. A aparência é antes de mais o mundo
empírico, mas depois, criando-se uma aparência de uma aparência, o sonho surge
para mitigar o sofrimento original.
A
tragédia grega representa a união de duas forças, a apolínea e a dionisíaca. Na
sua origem encontramos o coro dos sátiros, cantando um ditirambo2 em honra de Dioniso. Mergulhados na embriaguez dionisíaca, os coristas
sentiam-se sátiros e diziam os sofrimentos e glórias do deus. Ao mesmo tempo,
sob o efeito da força apolínea, viam este deus aparecer. Na tragédia clássica,
a de Ésquilo e de Sófocles, descobre-se sob o véu da beleza apolínea um fundo
de pensamento dionisíaco: os seus heróis são somente máscaras do deus. Mas a
tragédia morre quando Eurípides, sob a influência de Sócrates, introduz nela um
racionalismo otimista estranho ao seu espírito.
Nietzsche
trata do mito trágico. A música engendra imagens que são exemplos particulares
do que exprime em geral. Ela engendrou na Grécia mitos trágicos como imagens
simbólicas da sabedoria dionisíaca que exprimia. É esta sabedoria que no ensino
o mito: ele mostra-nos os sofrimentos e a morte do herói, mas através desta
destruição de um indivíduo, faz-nos sentir a vida que é indestrutível. E é por
isso que sentimos felicidade nesse espetáculo. A nossa cultura racionalista,
assim o é desde Sócrates, duvida agora dos seus fundamentos e sofre de
esterilidade. Mas o espírito dionisíaco sobreviveu na música alemã: ele
manifesta-se no drama wagneriano e pode inspirar uma nova cultura.
1 Uma tela ou ecrã (que
registra ainda a grafia écran)
é uma superfície esticada, feita com tecido ou vidro,
utilizada para cobrir um vão ou projetar uma imagem sem impedir a passagem de luz.
2 Nas origens do teatro grego, o ditirambo (do grego dithýrambos, pelo latim dithyrambu) era um canto coral de caráter apaixonado (alegre e sombrio), constituído de
uma parte narrativa, recitada pelo cantor
principal, ou corifeu, e de outra propriamente coral, executada por personagens vestidos de faunos e sátiros, considerados companheiros do deus Dioniso, em honra do qual se prestava essa homenagem ritualística.
quarta-feira, 18 de julho de 2012
Filosofia e Cinema: imagem, percepção e reflexão
Filosofia e arte sempre se mostraram
próximas em diversos aspectos, ambas fonte de conhecimento e reflexões. Dentre
todas as artes existe uma em especial que possui uma grande quantidade de
ligações com a filosofia, esta é o cinema. É possível encontrar um
lugar comum entre a filosofia e o cinema. Em seu livro “Convite à Filosofia”,
Marilena Chauí diz: “Como o livro, o cinema
tem o poder extraordinário, próprio da obra de arte, de tornar presente o ausente,
próximo o distante, distante o próximo, entrecruzando realidade e irrealidade, verdade
e fantasia, reflexão e devaneio.” Percebemos com isso, até onde o cinema
pode nos levar; não há um senso de espaço, pois sentimos a proximidade do
ocorrido de um filme porque experimentamos a distância.
Levar estudantes de filosofia ao
encontro da sétima arte pode ser um papel fundamental para sua formação. No
mundo de hoje, apesar de tanta informação e acesso ao cinema, poucos são
aqueles que assistem a filmes que provocam verdadeiramente reflexão. A grande
maioria tem acesso a filmes comerciais que muitas vezes não acrescentam nada,
provocam apenas a distração, o lazer. Ao promover este encontro, possibilitamos
aos estudantes perspectivas diferentes, abrimos os olhos não só para as
imagens, mas para a imaginação. A percepção se torna mais ampla e o sentimento
provocado é capaz de suscitar pensamentos e críticas.
Pretendemos fomentar a compreensão da
forma como as temáticas filosóficas podem aparecer em produções
cinematográficas. Salientando as possibilidades de enxergar e trabalhar as
realidades (ou as fantasias) do mundo por de trás das câmeras. De tal modo a
fazer com que os estudantes possam perceber que um filme traz em si diversos
aspectos, as características presentes têm um fundamento e vinculam-se a intenções,
ideologias, teorias, etc. Assim é necessária uma sensibilização do olhar: contextualizar
uma produção de relevância temática, isto é, os conceitos que impulsionaram a
criação e efetivação da ideia para o cinema, e como estas dialogam com os
temas, conceitos e conteúdos filosóficos. Visando
assim, caracterizar o cinema como uma forma de linguagem que favorece a
interpretação das teorias filosóficas.
Entre os objetivos específicos que
podemos elencar para a prática desta atividade encontram-se a necessidade de
realizar um trabalho a partir de um tema, esclarecendo as teorias,
interpretando as ideias, e refletindo acerca dos questionamentos filosóficos.
Os movimentos, as ideias, os autores e os pensamentos trabalhados através do
cinema pretendem não só encontrar meios para tratar conceitos, interpretar
textos e compreender as ligações da sétima arte com o cotidiano, mas também
aproximar cada vez mais o estudante da unificação do conhecimento para fomentar
um encontro artístico-filosófico.
sábado, 14 de julho de 2012
UM OLHAR SOBRE A FILOSOFIA POLÍTICA NA TERCEIRA CRÍTICA
Tornou-se
lugar comum por em questão a estética kantiana, indicando os pontos radicais da
terceira crítica, ou até mesmo pretendendo descobrir os motivos de levaram Kant
a escrevê-la. No entanto, é preciso dar conta de discussões
um pouco diferentes, como por exemplo, a possibilidade de uma filosofia política envolvendo a primeira parte da obra. Os juízo reflexivos estéticos podem se mostrar como ponto de partida para um julgamento
político. As discussões sobre a terceira crítica de Kant na maioria das vezes nos
remetem ao contexto dos juízos reflexivos, a questão do juízo sobre a beleza, e
principalmente ao juízo de gosto que é inteiramente subjetivo e mesmo assim possui
uma pretensão a universalidade. Kant deixa explicito nessa obra o tema da
finalidade, contemplando o sujeito com a capacidade de pensar o “impensável”. O
sujeito torna-se então o único responsável por seu ajuizamento, o qual não
possui nenhuma referência objetiva, mas depende unicamente de seu sentimento de
prazer e/ou desprazer. Tais juízos são construídos através da imaginação e do
entendimento em livre jogo, possibilitando liberdade e espontaneidade nas
faculdades cognitivas. Em seu livro A
filosofia política de Kant, Hannah Arendt propõe que tal juízo reflexivo
estético deve ser aplicado como uma espécie de “juízo político”, pois afinal a
universalidade subjetiva desse juízo está pautada na capacidade do sujeito de
colocar-se no lugar do outro. Nossa intenção é de promover um olhar a partir das
leituras de Arendt sobre o juízo reflexivo como fundamento do juízo político,
na medida em que o sujeito seja capaz de julgar os eventos políticos de maneira
reflexiva. Hannah Arendt se afasta de uma leitura ortodoxa dos textos
kantianos, vislumbrando assim a estrutura do juízo político no juízo reflexivo
estético. Em constante diálogo com a Crítica
da faculdade do juízo, na qual a autora afirma conter a verdadeira
filosofia política de Kant, Arendt constrói conceitos e fornece meios para a
interpretação política da obra. É preciso então situar os
conceitos kantianos para compreender as condições interpretativas da autora, para demostrar qual o pressuposto fundamental de sua interpretação.
Através da analise dos textos é possível visualizar como se dá o funcionamento da
faculdade de julgar, das faculdades cognitivas da imaginação e do entendimento,
e por meio de exposição e discussão das teorias, relacioná-las aos eventos
políticos. Desse modo as condições de possibilidade do juízo, se demonstram no conceito chave de senso
comumis. Tais conceitos apresentados por Kant estão relacionados as
possíveis condições que o sujeito encontra ao julgar, e a capacidade do sujeito
de julgar em nome de outros sujeitos. Assim, as perspectivas
através das quais a faculdade do juízo e o senso comum se manifestam no mundo
público, permitem uma conexão entre as faculdades cognitivas do sujeito e as
implicações éticas que estão presentes na faculdade de julgar. A reflexão é uma tentativa de compreender como
Arendt interpreta a faculdade de julgar e seus aspectos centrais. Uma vez que a
autora considera essa faculdade como a mais política das habilidades que
constituem o homem, e a relevância política da atividade
reflexionante do sujeito.
sábado, 9 de junho de 2012
Linguagem poética e linguagem científica
"[...] a poesia, o nomear que instaura o ser e a essência das coisas, não é um dizer caprichoso, mas aquele pelo qual se torna público tudo o que depois falamos e tratamos na linguagem cotidiana. Portanto, a poesia não toma a linguagem como um material já existente, senão que a poesia mesma torna possível a linguagem. A poesia é a linguagem primitiva de um povo histórico. [...] então é preciso entender a essência da linguagem pela essência da poesia." (HEIDEGGER, Arte e poesia. 1992)
“A filosofia está escrita neste imenso livro que continuamente está aberto diante de nossos olhos (estou falando do universo), mas que não se pode entender se primeiro não se aprende a entender sua língua e conhecer os caracteres em que está escrito. Ele está escrito em linguagem matemática e seus caracteres são círculos, triângulos e outras figuras geométricas, meios sem os quais é impossível entender humanamente suas palavras: sem tais meios, vagamos inutilmente por um escuro labirinto.”
(GALILEI, G. Il saggiatore. Apud REALE, G. & ANTISERI, D. História da filosofia.
São Paulo: Paulinas, 1990, v. 2, p. 281.)
“A filosofia está escrita neste imenso livro que continuamente está aberto diante de nossos olhos (estou falando do universo), mas que não se pode entender se primeiro não se aprende a entender sua língua e conhecer os caracteres em que está escrito. Ele está escrito em linguagem matemática e seus caracteres são círculos, triângulos e outras figuras geométricas, meios sem os quais é impossível entender humanamente suas palavras: sem tais meios, vagamos inutilmente por um escuro labirinto.”
(GALILEI, G. Il saggiatore. Apud REALE, G. & ANTISERI, D. História da filosofia.
São Paulo: Paulinas, 1990, v. 2, p. 281.)
domingo, 20 de maio de 2012
terça-feira, 15 de maio de 2012
terça-feira, 17 de abril de 2012
Beleza Americana
O filme é narrado por uma retórica póstuma, onde o personagem principal vê tudo do alto, nos convidando a encarar a vida e a morte nessa perspectiva. O filme retrata o desejo de transformação, ou a transformação pelo desejo de Lester Burnham. O que nos obriga a refletir sobre a ideia de felicidade, seja como parâmetro, seja como longa duração.
Foi na apresentação de sua filha Jane no jogo de basquete que ele apaixonou-se instantaneamente por uma amiga de sua filha Angela Hayes que faz o papel da jovem linda, sedutora e experiente. Queria ser modelo, pois não suportaria ser uma pessoa comum. Dava conselhos e orientações, especialmente a Jane. O desejo que despertou no pai da amiga foi plenamente aceito e fomentado por ela. Lester, profundamente abalado pela beleza e jovialidade de Angela, imaginava-a coberta de pétalas de rosas, uma mistura de delicadeza, sensualidade e desejo.
Mas Lester não desejou somente uma adolescente, virou sua vida, transformando-se no que gostaria de ser. Resolveu seu primeiro problema, que era o trabalho. Ao ser simplesmente despedido, depois de anos de dedicação, como se fosse uma mesa quebrada, não titubeou, chantageou o executivozinho contratado pelo dono da empresa para equanimizar custos, ou seja, ganhar mais e empregar menos. Com dinheiro suficiente partiu para realizar velhos sonhos. Comprou um Mustang vermelho; foi trabalhar numa lanchonete, como nos velhos tempos; passou a fazer musculação; voltou a fumar maconha; passou a ouvir as antigas músicas de sucesso; deu um basta aos jantares monótonos e formais com sua esposa e filha; até comprou um carrinho de controle remoto.
Para renovar seu estilo de vida envelhecido, Lester se perde numa nova perspectiva de vida, lançando-se nas experiências que proporcionavam momentos felizes. O desejo despertado por Angela, aquela que, à princípio, associamos o título do filme, beleza americana. O que ela própria achava de si mesma.
O mesmo não achava o filho do vizinho com sua inseparável filmadora de mão. Para Ricky Fitts era Jane que despertava a beleza. Filmava-a todo tempo. Era como se estivesse o tempo todo confrontando a artificialidade Angela com a bela e tímida naturalidade de Jane. Ele a filmava porque buscava captar com sua câmera a beleza dos acontecimentos, como demonstra na cena do saco plástico voando ao vento. O que entra pelas lentes da câmara, independentemente de seu conteúdo, é algo digno de ser visto e revisto, digno de ser percebido e registrado.
O pai de Ricky exercia sobre ele um controle intenso, com clima de quartel que criou em sua casa, cheio de regras a serem obedecidas por Ricky e por sua mãe, fazia da vida em comum um verdadeiro estado de sítio. Esta rigidez é fruto de um estado neurótico de profunda dissociação, que é responsável pelo desfecho trágico da história.
Lester é morto com um tiro na nuca, contemplando a foto da família. Com o barulho do tiro, Jane e Ricky, que estavam no quarto, desceram para ver o que havia ocorrido. Vêem Lester morto sobre a mesa. Mesmo enquanto morto, ainda estampava em seus lábios a felicidade e a satisfação dos que tentam fazer algo para transformar a própria existência.
quarta-feira, 4 de abril de 2012
Alexander Supertramp - Into the Wild
Na natureza selvagem foi baseado no bestseller com o mesmo nome, escrito por Jon Krakauer, e narra a verdadeira história de Christopher McCandless, um jovem americano farto de uma existência hipócrita e materialista, que após acabar a sua licenciatura com distinção, em vez de seguir uma provável carreira de sucesso, decide cortar todas as suas ligações com a família e a sociedade, partindo à aventura pela América, em busca de um lugar onde possa viver em harmonia com a natureza selvagem, com o objetivo de encontrar a essência do seu ser e a sua felicidade e concluir a “revolução espiritual”.
O filme é incrível, Sean Penn vai intercalando a viagem de McCandless com breves flashbacks do seu passado, narrados em voz off pela irmã. Sean Penn exibe McCandless sem exageros e sem se mostrar tendencioso para o seu lado mais ‘místico’ ou idealista, permitindo a quem vê o filme, formular uma opinião de certa forma impessoal sobre a vida dele. McCandless é mostrado como uma pessoa que faz amigos com grande facilidade, com uma simpatia espontânea, capaz de deixar marcas nas vidas daqueles com que se cruza. Não esconde sua revolta interior, e exibe uma determinação inabalável sobre o objetivo final a atingir, o Alasca. A fotografia do filme é exuberante com paisagens lindas captadas ao longo da sua trilha “On the road’, no Grand Canyon e no Alasca. Salienta-se também a fantástica trilha sonora, da responsabilidade de Eddie Vedder, nos transporta para o caminho buscado por Alex, e para a natureza.
A partir de agora o texto será dedicado para falar de Christopher McCandless, assim, abordarei a história e o final do filme. Não é fácil haver consenso na forma de olhar para a opção de vida tomada por Christopher. Uns acusam-no de egoísmo e superficialidade, considerando a sua atitude de abandonar tudo, sem falar com a família, e partir para o desconhecido, como uma forma de satisfação pessoal e de idealismo ingénuo. Outros, como Jon Krakauer, o autor do livro, admiram o seu lado de aventureiro heróico, a sua coragem inabalável de viver melhor, com simplicidade, tirando partido das pequenas coisas da vida, vivendo aventuras e experiências inesquecíveis, longe de tudo e de todos mergulhando na natureza selvagem; sendo livre e feliz.
Logo após acabar o curso na Universidade de Atlanta, em 1990, Christopher doou os 24 mil dólares que tinha no saldo bancário a instituições de caridade, rasgou seus documentos e desapareceu sem avisar a família, numa viagem que não teria retorno. No seu primeiro contratempo, abandonou seu velho carro um Datsun amarelo, queimou todas as poucas notas que trazia consigo, e partiu a pé em direção a Oeste. Nessa aventura passou a apresentar-se com o nome Alexander Supertramp, partindo em busca de experiências novas e enriquecedoras, influenciado pelos ideais de Henry David Thoreau, Leon Tolstói e Jack London.
Alex viveu com um dor enorme e uma revolta profunda com a sociedade. Mas sobretudo, com uma raiva pelos pais e pela sua relação construída à base de falsas aparências. Essa dor e essa raiva tornaram-no insensível para conseguir escutar um conselho sábio que lhe foi transmitido por Ron Franz. Este homem, que viu nele um neto e afirmou ser capaz de o adotar, disse-lhe “ao perdoarmos é que estamos verdadeiramente a amar”.
.
Ron Franz: I'm going to miss you when you go.
Christopher McCandless: I will miss you too, but you are wrong if you think that the joy of life comes principally from the joy of human relationships. God's place is all around us, it is in everything and in anything we can experience. People just need to change the way they look at things.
Ron Franz: Yeah. I am going to take stock of that. You know I am. I want to tell you something. From bits and pieces of what you have told me about your family, your mother and your dad... And I know you have problems with the church too... But there is some kind of bigger thing that we can all appreciate and it sounds to me you don't mind calling it God. But when you forgive, you love. And when you forgive, God's light shines through you.
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Os últimos 4 meses da sua aventura foram passados no Parque Nacional Denali, Fairbanks, no Alasca, sendo um destino que sempre quis atingir desde o início. Numa 5ª Feira de Abril de 1992, sem saber a hora ou o dia, Alex apanhou uma boleia até ao Stampede Trail, um caminho que levava ao interior do Alasca. A única comida que levava era um saco com cinco quilos de arroz. Dispunha de uma carabina com que tencionava caçar para se alimentar, e não levava outro equipamento que pudesse ser adequado ao objetivo a que se propunha, que lhe desse garantias de sobrevivência, no caso de algo correr mal.
No caminho que percorreu no Alasca selvagem, acabou por encontrar no meio do nada, um autocarro abandonado da Fairbanks Transit System. Chamou-o de ‘Ônibus Mágico’ e fez dele a sua casa durante os meses seguintes. Foi nesse ônibus que escreveu várias frases que serviram mais tarde para entender a sua forma de ver o mundo e a sociedade. Fez um diário que manteve na contracapa de vários livros, com cento e treze entradas. Alimentou-se do que trazia, de alguns animais que caçou com sucesso, e de bagas que colheu na natureza. Leu vários livros, rabiscando-os com pensamentos próprios sobre a vida.
Antes de tentar ir para o Alasca, Alex tinha tentado aprender a forma de conservar carne em condições naturais. Essa seria a única forma de ter comida suficiente para sobreviver numa zona inóspita e selvagem. Chegou a caçar um alce e tentou conservar parte da sua carne. Essa tarefa foi um desastre total e Alex acabou um enorme remorso por ter matado o animal, chamando de uma das maiores tragédias de sua vida.
Sabendo, então que não tinha maneira de se alimentar para garantir a sua sobrevivência, Alex decidiu fazer o caminho de regresso para sair do Alasca. Porém, por causa do degelo, um dos rios apresentava uma corrente que o tornavam intransponível no ponto onde ele o abordou. Se Alex tivesse levado um mapa detalhado dessa zona, que poderia ter adquirido em Fairbanks, poderia ficar a saber que esse rio seria facilmente transponível em outra área, ou que existia um abrigo nas redondezas abastecido com alimentos de emergência. Mas como objetivo dele era concluir uma revolução espiritual com a intenção de se isolar completamente da civilização, Alex fez seu próprio mapa, o que ele queria realmente era sobreviver através de seus recursos, e de sua capacidade de lidar com os contratempos. Seu objetivo era ficar sozinho com a natureza distante de qualquer contato ou dependência da sociedade. Alex diante daquele obstáculo se sentiu aprisionado no mundo selvagem que ele tanto queria viver e sentir. Perante esse cenário e sem experiência para encontrar alternativas, optou por regressar ao ‘Ônibus Mágico’ e enfrentar um destino pouco animador.
Christopher McCandless morreu a 18 de Agosto de 1992. Em 6 de setembro de 1992, dois trilheiros e um grupo de caçadores de alce acharam esta mensagem na porta do ônibus: "S.O.S. Preciso de ajuda. Estou aleijado, quase morto e fraco demais para sair daqui. Estou totalmente só, não estou brincando. Pelo amor de Deus, por favor, tentem me salvar. Estou lá fora apanhando frutas nas proximidades e devo voltar esta noite. Obrigado, Chris McCandless."
O seu corpo estava dentro de um saco de dormir, no ‘Ônibus Mágico’. À altura da sua morte, estima-se que o seu peso rondasse os 30Kg. A causa oficial da sua morte foi ‘Morte por Fome’.
Pode um ser humano viver sozinho, isolado de tudo e de todos, e mesmo assim sentir-se feliz? Tal como vem escrito num dos seus livros, sendo algo que Alex talvez tenha percebido tarde demais, “A Felicidade, para ser real precisa ser compartilhada”. No entanto, Alex morreu feliz; ele próprio escreveu numa entrada no diário, apercebendo-se do seu fraco estado de saúde, “Tive uma vida feliz, e agradeço ao Senhor. Adeus e que Deus vos abençoe a todos”.
Acredito que ele tenha transcendido completamente a maneira de viver dependendo só de si mesmo e da natureza. Muitos o acusam de egoísmo e superficialidade, considerando a sua atitude de abandonar tudo, sem falar com a família, e partir para o desconhecido, como uma forma de satisfação pessoal e ostentação, e até mesmo de suicídio. Krakauer e Sean Penn, e os seus próprios pais rejeitam o suícidio, pois Alex ao deixar a mensagem no ônibus pedindo que o resgatassem claramente não era um suicida, e sim um jovem em busca de uma aventura inesquecível e única. Judith Kleinfeld escreveu no Notícias Diárias do Ancoradouro que "muitos alasquenses reagiram com raiva a essa estupidez apelidada por muitos de "aventura". Tem-se que ser um completo idiota, para morrer de fome no verão a 30 km de distância da estrada do parque, disseram eles."
No entanto, Roman destaca o quão é difícil para qualquer pessoa aventurar-se e fazer o que Alex fez: "Claro, ele fez porcaria. Mas admiro o que estava a tentar fazer. Depender completamente da terra como ele fez, mês após mês, é extremamente difícil. Nunca o fiz. E aposto com vocês que muitas poucas, ou mesmo nenhumas das pessoas que chamaram incompetente a McCandless, também não o fizeram, pelo menos não por mais de uma semana ou duas. Viver no interior da floresta por um longo período, subsistindo apenas do que se consegue caçar e apanhar, a maioria das pessoas não sabe o quanto isso é difícil. E ele quase o conseguiu. Acho que não consigo deixar de me identificar com ele. E tenho a certeza de que há muitos outros habitantes do Alasca que tinham muito em comum com McCandless quando chegaram cá, incluindo muitos dos seus críticos. E talvez seja por isso que são tão severos com ele. Talvez McCandless lhes recorde demasiado como eram."
Alexander Supertrap ou Christopher McCandless, seja como for chamado é um entusiasta da vida e da liberdade. Não acredito em egoísmo muito menos em suícidio, ele enfrentou sozinho situações extremas e sobreviveu, ficou preso em uma armadilha da natureza da qual infelizmente não conseguiu escapar, mas viveu intensamente cada momento de sua vida. Aproveitou ao máximo quebrando as amarras da sociedade mergulhando na natureza selvagem. Vivendo momentos únicos e preciosos, não os compartilhou, no entanto transcendeu a existência em uma experiência de reflexão e entregas únicas.
“Two years he walks the earth. No phone, no pool, no pets, no cigarettes. Ultimate freedom. An extremist. An aesthetic voyager whose home is the road. Escaped from Atlanta. Thou shalt not return, 'cause "the West is the best." And now after two rambling years comes the final and greatest adventure. The climactic battle to kill the false being within and victoriously conclude the spiritual pilgrimage. Ten days and nights of freight trains and hitchhiking bring him to the Great White North. No longer to be poisoned by civilization he flees, and walks alone upon the land to become lost in the wild”
Alexander Supertramp May 1992
Auto-retrato encontrado na sua máquina fotográfica, tirado perto do momento da sua morte
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