terça-feira, 17 de junho de 2014

Textos de Filosofia Medieval

Na Idade Média percebemos um grande esforço intelectual para fundamentar a fé através da razão. Durante esse período fé e razão se harmonizaram através da filosofia cristã.

Nesse período, patrimônio cultural do Ocidente cristão é enriquecido com valiosas contribuições dos intelectuais muçulmanos. O renascimento cultural promovido pelos árabes no Oriente, nos séculos VIII e IX, é marcado por avanços científicos e pela retomada do pensamento racional grego. Averróis foi médico e filósofo; na filosofia, destaca se por ser um dos maiores comentaristas da obra do filósofo grego Aristóteles, tornando-se, assim, um dos mais ilustres pensadores da baixa Idade Média. 


SANTO AGOSTINHO

A Patrística foi a Filosofia Cristã dos primeiros séculos de nossa era. Consistia na elaboração doutrinal das crenças religiosas do cristianismo e na sua defesa contra os ataques dos pagãos e contra as heresias. Dado o encontro entre a nova religião e o pensamento filosófico greco- romano, o grande tema da Filosofia Patrística foi o da possibilidade ou impossibilidade de conciliar fé e razão. Santo Agostinho, expoente dessa filosofia, sobre a relação fé e razão, defendia a tese que se pode resumir nesta frase: "Credo ut intelligam" (Creio para entender).

Santo Agostinho retoma a célebre teoria platônica das Ideias à luz do cristianismo e formula a teoria da iluminação segundo a qual o homem recebe de Deus o conhecimento das verdades eternas: à semelhança do sol, Deus ilumina a razão e torna possível o pensar correto. Segundo Santo Agostinho, a fé não conflita com a razão, esta última seria auxiliar da fé e estaria a ela subordinada. A fé, não oprime a razão, mas, ao contrário, abre-lhe os olhos que a falta de fé mantinha fechados. A partir dos princípios da fé, a razão, por suas próprias forças, deduzirá consequências e tentará resolver os problemas que Deus deixou para nossas livres discussões. 

Quem nos mostrará o Bem? Ouçam a nossa resposta: Está gravada dentro de nós a luz do vosso rosto, Senhor. Nós não somos a luz que ilumina a todo homem, mas somos iluminados por Vós. Para que sejamos luz em Vós os que fomos outrora trevas. (SANTO AGOSTINHO. Confissões IX. São Paulo: Nova Cultural,1987. 4, l0. p.154. Coleção Os Pensadores) A doutrina da iluminação se baseia na busca pela razão através da fé, é preciso crer para entender.

Haja vista que para cada ato humano implica-se uma tomada de posição frente
às coisas, Santo Agostinho concebe que, ou delas se “frui” ou se “usa”. Mas afinal, o
que significa isto? Fruir significa “aderir a alguma coisa por amor a ela própria”; usar, ao
contrário, “é o orientar o objeto de que se faz uso para obter ao qual se ama, caso tal
objeto merece ser amado”. Poder-se-ia perguntar que, dada esta
distinção entre os atos – devido a uma distinção entre os objetos –, de que se deve
então fruir?
Responde, ele que somente Deus Trindade: “o Pai, o Filho e o
Espírito Santo..., a própria Trindade, uma e suprema realidade, é a única Coisa a ser
fruída, bem comum de todos”. Cabe, portanto, que o homem, reconheça sua
necessidade Daquele que lhe deu a vida e, em meio às coisas do mundo, veja em
Deus, o sumo bem, acima do qual não se pode conceber outro maior.
De Deus frui-se porque, Deus ama os homens e as divinas Escrituras proclamam
bem alto esse seu amor. Ama não para gozar deste, já que não precisa da bondade
humana: “Se for para gozar, então precisa de nossa bondade? Tal conclusão ninguém
de juízo poderá sustentar. Pois todo bem que está em nós, ou é ele próprio ou procede
dele”.


SÃO TOMÁS DE AQUINO

As cinco vias consistem em cinco grandes linhas de argumentação por meio das quais se pode provar a existência de Deus. Sua importância reside sobretudo em que supõe a possibilidade de se chegar no entendimento de Deus, ainda que de forma parcial e indireta, a partir da consideração do mundo natural, do cosmo, entendido como criação divina. (MARCONDES, D. Textos básicos de filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999. p. 67.) Tomás de Aquino formula as argumentações que provam a existência de Deus sob a influência do pensamento de Aristóteles, recorrendo não à Bíblia, mas, sobretudo, à Metafísica do filósofo grego. 

 "Nos três primeiros artigos da 2ª questão da Suma de Teologia, Tomás de Aquino discute sobre a existência de Deus. Suas conclusões são: 1) a existência de Deus não é auto evidente, sendo preciso demonstrá-la; 2) a existência de Deus não pode ser demonstrada a partir de sua essência (pois isso ultrapassa a nossa capacidade de conhecimento); 3) a existência de Deus pode ser demonstrada, contudo, a partir de seus efeitos (demonstração quia), isto é, a partir da natureza criada podemos conhecer algo a respeito do seu Criador. A partir disso, ele desenvolve cinco argumentos ou vias segundo as quais se pode mostrar, a partir dos efeitos, que Deus existe." 
(Adaptado de: MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000. p. 126-130.) 
Nos argumentos de Tomás de Aquino sobre a existência de Deus, pode-se perceber a influência dos escritos de Aristóteles em seu pensamento. 
Segundo a prova teleológica, tudo que obedece a uma finalidade pressupõe uma inteligência que o criou com tal finalidade, como o carpinteiro em relação a uma mesa; ora, percebemos a finalidade no Universo (todas as criaturas têm uma finalidade); logo, Deus é o princípio que dá essa finalidade ao Universo. 
Segundo a prova que se baseia no movimento, Deus é considerado o motor imóvel, isto é, como a causa primeira do movimento que percebemos no mundo, e deve ser imóvel para evitar o regresso ao infinito. 
A Suma Teológica de Tomás reúne, sem dúvida alguma, uns dos maiores escritos sobre o cristianismo com fundamentação filosófica de todos os tempos.


A REVOLUÇÃO

Admite-se de maneira geral que o século XVII sofreu e realizou uma radicalíssima revolução espiritual de que a ciência moderna é só mesmo tempo a raiz e o fruto. Essa revolução pode ser descrita e caracterizada de varias maneira diferentes. [...] Em minha opinião ela é expressão de um processo mais profundo e mais fundamental, em resultado do qual o homem, como às vezes se diz, perdeu seu lugar no mundo ou, dão talvez mais corretamente, perdeu o próprio mundo em que vivia e sobre o qual pensava, e teve de transformar e substituir não só seus conceitos e atributos fundamentais, mas até mesmo o quadro de referencia de seu pensamento.”
(KOYRÉ, A. Do mundo fechado ao universo infinito. P. 13)
Esta revolução causou a destruição da ideia greco-romana e cristã de Cosmos, isto é, do mundo como ordem fixa segundo hierarquias de perfeição e em seu lugar surgiu a ideia de um Universo infinito, aberto no tempo e no espaço, sem fim, sem limite.

O espaço heterogêneo e hierarquizado dos lugares naturais da Física aristotélico-tomista foi substituído pela ideia de um espaço homogêneo, mensurável, calculável e sem valores.

Imagine-se em um centro urbano, observando pessoas que estão indo e vindo de diferentes lugares, cada uma movida por múltiplas razões. Pode-se, entre outros aspectos, identificar que cada pessoa é impulsionada a realizar características que a distinguem de outros animais. Cada uma dessas características pode afirmar o homem como: ser histórico, ser religioso e ser de conhecimento. 

Para agir no mundo, a pessoa humana utiliza-se de diferentes modalidades de conhecimento.
Como o senso comum como conhecimento irracional, de pouca influência na formação de novos conhecimentos. 
A ciência como um saber, que, na sua essência, procura desvendar a natureza a partir, principalmente, das relações entre causa e efeito. 
A arte como um conhecimento que proporciona entender o mundo através da sensibilidade do artista. 
A filosofia como um saber que se propõe a oferecer um conhecimento, baseado na busca rigorosa da origem dos problemas, relacionando-os a outros aspectos da vida humana. 
O mito como saber capaz de superar a subjetividade do homem, frente ao desconhecido.


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