Sobre Mito e Filosofia podemos afirmar o seguinte:
Os poemas homéricos, em razão de muitos de seus componentes, já contêm características essenciais da compreensão de mundo grega que, posteriormente, se revelaram importantes para o surgimento da filosofia.
O naturalismo, que se manifesta nas origens da filosofia, já se evidencia na própria religiosidade grega, na medida em que nem homens nem deuses são compreendidos como perfeitos.
A humanização dos deuses na religião grega, que os entende movidos por sentimentos similares aos dos homens, contribuiu para o processo de racionalização da cultura grega, auxiliando o desenvolvimento do pensamento filosófico e científico.
“Do arco o nome é vida e a obra é morte.” (HERÁCLITO. Sobre a natureza. Trad. de José Cavalcante de Souza. São Paulo: Nova Cultural, 1989, p. 56. Coleção Os Pensadores)
Este fragmento ilustra bem o pensamento de Heráclito, que acreditou ser o mundo o eterno fluir, comparado a um rio no qual entramos e não entramos. É possível afirmar que tudo está representado pela mudança e pelo fluxo eterno de todas as coisas. Nada está imóvel, tudo está em um eterno devir. Devir constante que transforma a própria vida em morte e a morte em vida.
“Na filosofia de Parmênides preludia-se o
tema da ontologia. A experiência não lhe apresentava em nenhuma parte um ser
tal como ele o pensava, mas, do fato que podia pensá-lo, ele concluía que ele
precisava existir: uma conclusão que repousa sobre o pressuposto de que nós
temos um órgão de conhecimento que vai à essência das coisas e é independente
da experiência. Segundo Parmênides, o elemento de nosso pensamento não está
presente na intuição, mas é trazido de outra parte, de um mundo extra-sensível
ao qual nós temos um acesso direto através do pensamento.” (NIETZSCHE,
Friedrich. A filosofia na época trágica dos gregos. Trad. Carlos A. R. de
Moura. In Os pré-socráticos. São Paulo: Abril Cultural, 1978. p. 151. Coleção
Os Pensadores.)
Para Parmênides, o Ser e a Verdade coincidem, porque é impossível a Verdade
residir naquilo que Não-é: somente o Ser pode ser pensado e dito. Assim, pode-se afirmar com segurança que Parmênides rejeita a experiência como fonte
da verdade, pois, para ele, o Ser não pode ser percebido pelos sentidos. O pensamento, para Parmênides, é o meio adequado para se chegar à essência das
coisas, ao Ser, porque os dados dos sentidos não são suficientes para apreender
a essência. Na impermanência e na opinião residem o não-ser, pois somente aquilo que é de
acordo com a sua verdade e a sua essência é o ser.
“Necessário é o dizer e pensar que (o) ente
é; pois é ser, e nada não é; isto eu te mando considerar. Pois primeiro desta
via de inquérito eu te afasto, mas depois daquela outra, em que mortais que
nada sabem erram, duplas cabeças, pois o imediato em seus peitos dirige errante
pensamento.” (PARMÊNIDES. Sobre a natureza. Trad. de José Cavalcante
de Souza. São Paulo: Nova Cultural, 1989, p. 88. Coleção. Os Pensadores.).
Não se pode dizer “não-ser é”, porque “não-ser” é impensável.
Dizer não-ser é não não-ser, é o mesmo que afirmar não-ser não é.
Após
a grande descoberta de Parmênides em relação à origem de todas as coisas, a
saber, que tudo advém do Ser, que é imóvel, indivisível e sobre o qual nada
mais perfeito pode ser pensado. O pensamento pré-socrático entra em crise e os
pensadores a partir daí passam a ser pluralistas, isso significa que, tendo
em vista que o Ser é indivisível, os pensadores passaram a nomear mais de um
elemento como constitutivo da origem do mundo.
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