Filosofando na praça
"Foi muito mais nos costumes do que nos escritos que os filósofos aprenderam a maior de todas as artes: a de bem viver." Cícero
segunda-feira, 4 de abril de 2016
Existe a Felicidade? Qual o sentido da vida? O que é liberdade?
O vídeo é uma palestra do Filósofo Leandro Karnal que propõe uma reflexão sobre o sentido da vida sobre a vontade de vir a ser. A essência do ser humano, estamos divulgando de certo modo o que ele pensa e propõe para o pensamento crítico. E analisando também o que ele fala sobre os filósofos.
Sempre podemos nos atualizar....
Nos dias atuais está na moda atualizar coisas, atualizamos aplicativos, atualizamos o visual, fazemos uma busca sempre pelo mais moderno. Isso significa no nosso cotidiano uma escravidão a tecnologia, podemos nos focar nesse tema e passar todo o tempo criticando e partindo do principio que não exista nada de bom na tecnologia. Muito pelo contrário, a intenção aqui é olhar para o avanço da técnica como um reflexo de nós mesmos, da evolução de nossas posturas decadentes.
Na Grécia Antiga Aristóteles já citava a atualização como algo necessário a vida humana, é preciso atualizar nossas potencialidades para que elas possam ser de fato algo em nossas vidas. É preciso olhar para a atualização como uma possibilidade de ser!
Um pequeno texto para a tentativa de publicar mais temas interessantes de filosofia...
Na Grécia Antiga Aristóteles já citava a atualização como algo necessário a vida humana, é preciso atualizar nossas potencialidades para que elas possam ser de fato algo em nossas vidas. É preciso olhar para a atualização como uma possibilidade de ser!
Um pequeno texto para a tentativa de publicar mais temas interessantes de filosofia...
quarta-feira, 8 de abril de 2015
Enfim a volta da filosofia
Enfim temos a grande volta da movimentação filosófica no Filosofando.
A visão filosófica que podemos nos forçar a ter nos dias atuais acaba nos enfraquecendo e/ou nos mutilando. A vida em si parece se esgotar cada vez mais, e quando olhamos ao redor temos uma quase certeza que nos ronda todo o tempo: o mundo está perdido!
Mas, ainda sim, é preciso se perguntar, em quais sentidos podemos afirmar tal perdição? O que ela significa propriamente? Como conseguimos perceber tal perdição estando em meio a ela mesma?
Tais reflexões nos mostram a nossa capacidade de filosofar, demonstrando que o ser humano precisa pensar sobre a sociedade em que está inserido, e mais, pensar criticamente. É preciso, na verdade é necessário sermos um pouco estranhos a nossa realidade para que possamos perceber o que há de errado, o que há de problemático na nossa vida.
quarta-feira, 18 de junho de 2014
Estética e Filosofia da Arte - de Platão a Benjamin
PLATÃO E ARISTÓTELES
Platão
destaca, na República (livro III), a importância da educação musical dos
futuros guardiões da cidade, ao dizer: “[...] a educação pela música é capital, porque o ritmo e a harmonia penetram
mais fundo na alma e afetam-na mais fortemente [...].” (PLATÃO. A
República. Tradução e notas de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 2001. p. 133.)
A música deve desenvolver sentimentos éticos nobres para bem servir a cidade e
os cidadãos. Assim, a música deve moldar qualidades como temperança, generosidade, grandeza de alma
e outras similares.
Na República, Platão faz a seguinte consideração sobre os poetas:
“[...] devemos começar por vigiar os autores de
fábulas, e selecionar as que forem boas, e proscrever as más. [...] Das que
agora se contam, a maioria deve rejeitar-se. [...] As que nos contaram Hesíodo
e Homero - esses dois e os restantes poetas. Efectivamente, são esses que
fizeram para os homens essas fábulas falsas que contaram e continuam a contar.” (PLATÃO. A
República. Tradução de Maria Helena da Rocha Pereira. 8. ed. Lisboa, Fundação
Calouste Gulbenkian, 1996. p. 87-88.)
Por
seu turno, na Poética, Aristóteles diz o seguinte a respeito dos poetas: “[...] quando no
poeta se repreende uma falta contra a verdade, há talvez que responder como
Sófocles: que representava ele os homens tais como devem ser, e Eurípides, tais
como são. E depois caberia ainda responder: os poetas representam a opinião
comum, como nas histórias que contam acerca dos deuses: essas histórias talvez
não sejam verdadeiras, nem melhores; [...] no entanto, assim as contam os
homens.” (ARISTÓTELES. Poética. Tradução de
Eudoro de Souza. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 468. Os Pensadores
IV.)
Platão e Aristóteles concordam com o fato de o poeta falar o falso, só que para
Platão suas fábulas são indignas para a juventude, enquanto que, para
Aristóteles, a poesia por ser mímesis não precisa dizer a verdade.
[...] não é ofício de poeta narrar o que
aconteceu; é, sim, o de representar o que poderia acontecer, quer dizer: o que
é possível segundo a verossimilhança e a necessidade. Com efeito, não diferem o
historiador e o poeta por escreverem verso ou prosa [...] (ARISTÓTELES.
Poética. Tradução de Eudoro de Souza. São Paulo: Abril Cultural, 1979. p. 249.)
Para Aristóteles a poesia refere-se, principalmente, ao universal; a história, ao
particular.
POESIA - POÉTICA
“[...] a
poesia, o nomear que instaura o ser e a essência das coisas, não é um dizer
caprichoso, mas aquele pelo qual se torna público tudo o que depois falamos e
tratamos na linguagem cotidiana. Portanto, a poesia não toma a linguagem como
um material já existente, senão que a poesia mesma torna possível a linguagem.
A poesia é a linguagem primitiva de um povo histórico. [...] então é preciso
entender a essência da linguagem pela essência da poesia.” (HEIDEGGER, Arte
e poesia. 1992).
Através deste fragmento, podemos visualizar que é preciso entender a essência da linguagem pela
essência da poesia, pois a poesia mesma é que torna possível a linguagem.
A arte está muito além da beleza, a arte provoca em nós
sentimentos e pensamentos que estão intimamente relacionados a nossa capacidade
de reflexão. Os movimentos artísticos e os verdadeiros gênios que já passaram
por esse mundo, sempre buscaram relacionar sua arte com a política e com a
sociedade em geral. Por esses e outros motivos, a arte juntamente com a filosofia provoca nossos mais profundos
pensamentos acerca do mundo em que vivemos e de nós mesmos.
WALTER BENJAMIN
"Em suma, o que é a aura? É uma figura
singular, composta de elementos espaciais e temporais: a aparição única de uma
coisa distante, por mais perto que ela esteja. Observar, em repouso, numa tarde
de verão, uma cadeia de montanhas no horizonte, ou um galho, que projeta sua
sombra sobre nós, significa respirar a aura dessas montanhas, desse galho.
Graças a essa definição, é fácil identificar os fatores sociais específicos que
condicionam o declínio atual da aura. Ele deriva de duas circunstâncias,
estreitamente ligadas à crescente difusão e intensidade dos movimentos de
massas. Fazer as coisas "ficarem mais próximas" é uma preocupação tão
apaixonada das massas modernas como sua tendência a superar o caráter único de
todos os fatos através da sua reprodutibilidade". (Fonte:
BENJAMIN, W. "A obra de arte na era de sua reprodutibilidade
técnica". In: Magia e Técnica, Arte e Política. Obras Escolhidas. Tradução
de Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1985, p. 170.)
O declínio da
aura decorre do desejo de diminuir a distância e a transcendência dos objetos
artísticos. Já que a obra é aquilo que nos transporta ao distante, quanto mais próximos queremos ficar dela, acontece a perda do seu valor de culto e da sua aura artística.
Sobre a crítica de arte, Benjamin afirma:
“É preciso mais crítica para tornar os
espaços mais plurais e mais compartilhados, precisamos falar sobre tudo aquilo
que nos causa movimento.”
Diante dessa afirmativa é possível dizer que, a crítica de arte significa explorar os contextos
e as releituras da obra. Afinal a crítica nada mais é do que um movimento que se dá a partir da obra, e pretende enaltecer todos os contextos que ela revela.
terça-feira, 17 de junho de 2014
Textos de Filosofia Medieval
Na Idade Média percebemos um grande esforço intelectual para fundamentar a fé através da razão. Durante esse período fé e razão se harmonizaram através da filosofia cristã.
Nesse período, patrimônio cultural do Ocidente cristão é enriquecido com valiosas contribuições dos intelectuais muçulmanos. O renascimento cultural promovido pelos árabes no Oriente, nos séculos VIII e IX, é marcado por avanços científicos e pela retomada do pensamento racional grego. Averróis foi médico e filósofo; na filosofia, destaca se por ser um dos maiores comentaristas da obra do filósofo grego Aristóteles, tornando-se, assim, um dos mais ilustres pensadores da baixa Idade Média.
SANTO AGOSTINHO
A Patrística foi
a Filosofia Cristã dos primeiros séculos de nossa era. Consistia na elaboração
doutrinal das crenças religiosas do cristianismo e na sua defesa contra os
ataques dos pagãos e contra as heresias. Dado o encontro entre a nova religião
e o pensamento filosófico greco- romano, o grande tema da Filosofia Patrística
foi o da possibilidade ou impossibilidade de conciliar fé e razão. Santo
Agostinho, expoente dessa filosofia, sobre a relação fé e razão, defendia a
tese que se pode resumir nesta frase: "Credo ut intelligam" (Creio
para entender).
Santo Agostinho retoma a célebre teoria platônica das Ideias à luz do
cristianismo e formula a teoria da iluminação segundo a qual o homem recebe de
Deus o conhecimento das verdades eternas: à semelhança do sol, Deus ilumina a
razão e torna possível o pensar correto. Segundo Santo Agostinho, a fé não conflita com a razão, esta última seria
auxiliar da fé e estaria a ela subordinada. A fé, não oprime a razão, mas, ao contrário, abre-lhe os
olhos que a falta de fé mantinha fechados. A partir dos princípios da fé, a
razão, por suas próprias forças, deduzirá consequências e tentará resolver os
problemas que Deus deixou para nossas livres discussões.
Quem nos
mostrará o Bem? Ouçam a nossa resposta: Está gravada dentro de nós a luz do
vosso rosto, Senhor. Nós não somos a luz que ilumina a todo homem, mas somos
iluminados por Vós. Para que sejamos luz em Vós os que fomos outrora trevas. (SANTO
AGOSTINHO. Confissões IX. São Paulo: Nova Cultural,1987. 4, l0. p.154. Coleção
Os Pensadores) A
doutrina da iluminação se baseia na busca pela razão através da fé, é preciso
crer para entender.
Haja vista que para cada ato humano implica-se uma tomada de posição frente
às coisas, Santo Agostinho concebe que, ou delas se “frui” ou se “usa”. Mas afinal, o
que significa isto? Fruir significa “aderir a alguma coisa por amor a ela própria”; usar, ao
contrário, “é o orientar o objeto de que se faz uso para obter ao qual se ama, caso tal
objeto merece ser amado”. Poder-se-ia perguntar que, dada esta
distinção entre os atos – devido a uma distinção entre os objetos –, de que se deve
então fruir?
Responde, ele que somente Deus Trindade: “o Pai, o Filho e o
Espírito Santo..., a própria Trindade, uma e suprema realidade, é a única Coisa a ser
fruída, bem comum de todos”. Cabe, portanto, que o homem, reconheça sua
necessidade Daquele que lhe deu a vida e, em meio às coisas do mundo, veja em
Deus, o sumo bem, acima do qual não se pode conceber outro maior.
De Deus frui-se porque, Deus ama os homens e as divinas Escrituras proclamam
bem alto esse seu amor. Ama não para gozar deste, já que não precisa da bondade
humana: “Se for para gozar, então precisa de nossa bondade? Tal conclusão ninguém
de juízo poderá sustentar. Pois todo bem que está em nós, ou é ele próprio ou procede
dele”.
SÃO TOMÁS DE AQUINO
As cinco vias
consistem em cinco grandes linhas de argumentação por meio das quais se pode
provar a existência de Deus. Sua importância reside sobretudo em que supõe a
possibilidade de se chegar no entendimento de Deus, ainda que de forma parcial
e indireta, a partir da consideração do mundo natural, do cosmo, entendido como
criação divina. (MARCONDES,
D. Textos básicos de filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1999. p. 67.) Tomás de Aquino formula as argumentações que provam a existência de Deus sob a
influência do pensamento de Aristóteles, recorrendo não à Bíblia, mas,
sobretudo, à Metafísica do filósofo grego.
"Nos três primeiros artigos da 2ª
questão da Suma de Teologia, Tomás de Aquino discute sobre a existência de
Deus. Suas conclusões são: 1) a existência de Deus não é auto evidente, sendo
preciso demonstrá-la; 2) a existência de Deus não pode ser demonstrada a partir
de sua essência (pois isso ultrapassa a nossa capacidade de conhecimento); 3) a
existência de Deus pode ser demonstrada, contudo, a partir de seus efeitos
(demonstração quia), isto é, a partir da natureza criada podemos conhecer algo
a respeito do seu Criador. A partir disso, ele desenvolve cinco argumentos ou
vias segundo as quais se pode mostrar, a partir dos efeitos, que Deus existe."
(Adaptado
de: MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor, 2000. p. 126-130.)
Nos argumentos de Tomás de Aquino sobre a existência de Deus, pode-se
perceber a influência dos escritos de Aristóteles em seu pensamento.
Segundo a prova teleológica, tudo que obedece a uma finalidade pressupõe uma
inteligência que o criou com tal finalidade, como o carpinteiro em relação a
uma mesa; ora, percebemos a finalidade no Universo (todas as criaturas têm uma
finalidade); logo, Deus é o princípio que dá essa finalidade ao Universo.
Segundo a prova que se baseia no movimento, Deus é considerado o motor imóvel,
isto é, como a causa primeira do movimento que percebemos no mundo, e deve ser
imóvel para evitar o regresso ao infinito.
A Suma Teológica de Tomás reúne, sem dúvida alguma, uns dos maiores escritos
sobre o cristianismo com fundamentação filosófica de todos os tempos.
A REVOLUÇÃO
“Admite-se de maneira geral que o século XVII
sofreu e realizou uma radicalíssima revolução espiritual de que a ciência
moderna é só mesmo tempo a raiz e o fruto. Essa revolução pode ser descrita e
caracterizada de varias maneira diferentes. [...] Em minha opinião ela é
expressão de um processo mais profundo e mais fundamental, em resultado do qual
o homem, como às vezes se diz, perdeu seu lugar no mundo ou, dão talvez mais
corretamente, perdeu o próprio mundo em que vivia e sobre o qual pensava, e
teve de transformar e substituir não só seus conceitos e atributos
fundamentais, mas até mesmo o quadro de referencia de seu pensamento.”
(KOYRÉ,
A. Do mundo fechado ao universo infinito. P. 13)
Esta revolução causou a destruição da ideia greco-romana e cristã de Cosmos,
isto é, do mundo como ordem fixa segundo hierarquias de perfeição e em seu
lugar surgiu a ideia de um Universo infinito, aberto no tempo e no espaço, sem
fim, sem limite.
O espaço heterogêneo e hierarquizado dos lugares naturais da Física aristotélico-tomista
foi substituído pela ideia de um espaço homogêneo, mensurável, calculável e sem
valores.
Imagine-se
em um centro urbano, observando pessoas que estão indo e vindo de diferentes
lugares, cada uma movida por múltiplas razões. Pode-se, entre outros aspectos,
identificar que cada pessoa é impulsionada a realizar características que a
distinguem de outros animais. Cada uma dessas características pode afirmar o
homem como: ser histórico, ser religioso e ser de conhecimento.
Para
agir no mundo, a pessoa humana utiliza-se de diferentes modalidades de
conhecimento.
Como o senso comum como conhecimento irracional, de pouca influência na formação de novos conhecimentos.
Como o senso comum como conhecimento irracional, de pouca influência na formação de novos conhecimentos.
A ciência como um saber, que, na sua essência, procura desvendar a natureza a
partir, principalmente, das relações entre causa e efeito.
A arte como um conhecimento que proporciona entender o mundo através da
sensibilidade do artista.
A filosofia como um saber que se propõe a oferecer um conhecimento, baseado na
busca rigorosa da origem dos problemas, relacionando-os a outros aspectos da
vida humana.
O mito como saber capaz de superar a
subjetividade do homem, frente ao desconhecido.
segunda-feira, 16 de junho de 2014
A sofística e a relatividade do conhecimento
A physis é a totalidade das manifestações que são regidas por uma lei (nomos) que garante a ordem e a harmonia do todo. Essa lei é entendida como lei natural, isto é, própria da physis, cuja a regulação abrange todas as instâncias da natureza, incluindo nisso a regulação dos agrupamentos humanos. De tal modo, que a ordem social estabelecida, bem como os valores inerentes a essa organização, é também uma ordem natural, ou seja, sua estrutura segue as determinações da própria physis. Então, as diferentes castas da sociedade são determinações de uma lei natural, que não só ordena a sociedade humana, como estrutura todo o Cosmos. Está identidade entre ordem social e ordem cósmica, determinadas pela lei (nomos), é o que sustentava a hegemonia da aristocracia na liderança e administração das cidades-estado – tal casta está ali pela ordem das coisas e ali deve continuar.
Os sofistas vem precisamente por em questão a origem da lei (nomos) e consequentemente de toda uma estrutura social, que supostamente é determinada por uma ordem divina, por uma ordem cósmica, e sustentam que a lei (nomos) é antes convenção humana, que se impõe pelo poder e pelo costume, pela tradição, e não uma determinação divina intrínseca a manifestação da physis.
Colocando a lei (nomos) no âmbito humano e retirando sua roupagem natural e divina, então ela pode ser discutida, reelaborada. E, uma vez que a lei (nomos) tem um caráter extremamente flexível, pois é dependente da medida humana, consequentemente a estrutura social também é passível de infinitas reelaborações, bem como os valores acerca do bem e do mal, belo, útil, dever e etc. Desse modo, as especulações políticas e as ambições sociais ganham peso irreversível na Grécia antiga e os sofistas se pretendem mestres da juventude que deve se impor e renovar os quadros sociais segundo, em última instância, seus interesses pessoais. Com os sofistas a sociedade humana se desprende do suposto determinismo cósmico, para se reelaborar constantemente, segundo as medidas e interesses humanos.
Dizer que há lei natural é antes sustentar que há um princípio objetivo, independente das relações entre os homens e que garante a origem da ordem, do bem e de todos os valores que os homens mais ou menos compreendem.
Assim, a Lei Natural é o conjunto das leis divinas estabelecidas por Deus e a sua finalidade última é manter a soberana Justiça em todas as manifestações da natureza, diferente da concepção grega de lei natural que por ela justifica as desigualdades sociais e a predominância abusiva de uma casta e por isso mesmo foi passível da crítica sofística.
O homem é o centro das reflexões dos sofistas, é colocado como medida de todas as coisas, que se distanciam das questões da natureza e da cosmologia para se preocuparem com o homem inserido na cidade e na sua formação para atuar nessa cidade. Ele é a medida porque a sua percepção da realidade está condicionada aos sentidos, de modo que as coisas são ou não são em virtude de como ele as percebe. Assim, o conhecimento é subjetivo, no sentido de que as coisas, para serem percebidas, se adequam aos meios de percepção humana.
Desse modo, a natureza e a sua possível verdade está sujeita ao homem, aos seus critérios humanos, que podem variar ao infinito. E os sofistas se ocupam de oferecer as melhores técnicas da retórica para que os homens consigam fazer prevalecer suas percepções particulares acerca de qualquer assunto, objeto, problema. Pois, sendo o homem a medida de todas as coisas, não existe “a verdade” acima de sua medida particular, mas apenas opiniões verdadeiras que se destacam pela aplicação da melhor técnica oratória.
MORENTE, M. G. Fundamentos de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970.
Textos de Filosofia Antiga
Sobre Mito e Filosofia podemos afirmar o seguinte:
Os poemas homéricos, em razão de muitos de seus componentes, já contêm características essenciais da compreensão de mundo grega que, posteriormente, se revelaram importantes para o surgimento da filosofia.
O naturalismo, que se manifesta nas origens da filosofia, já se evidencia na própria religiosidade grega, na medida em que nem homens nem deuses são compreendidos como perfeitos.
A humanização dos deuses na religião grega, que os entende movidos por sentimentos similares aos dos homens, contribuiu para o processo de racionalização da cultura grega, auxiliando o desenvolvimento do pensamento filosófico e científico.
“Do arco o nome é vida e a obra é morte.” (HERÁCLITO. Sobre a natureza. Trad. de José Cavalcante de Souza. São Paulo: Nova Cultural, 1989, p. 56. Coleção Os Pensadores)
Este fragmento ilustra bem o pensamento de Heráclito, que acreditou ser o mundo o eterno fluir, comparado a um rio no qual entramos e não entramos. É possível afirmar que tudo está representado pela mudança e pelo fluxo eterno de todas as coisas. Nada está imóvel, tudo está em um eterno devir. Devir constante que transforma a própria vida em morte e a morte em vida.
“Na filosofia de Parmênides preludia-se o
tema da ontologia. A experiência não lhe apresentava em nenhuma parte um ser
tal como ele o pensava, mas, do fato que podia pensá-lo, ele concluía que ele
precisava existir: uma conclusão que repousa sobre o pressuposto de que nós
temos um órgão de conhecimento que vai à essência das coisas e é independente
da experiência. Segundo Parmênides, o elemento de nosso pensamento não está
presente na intuição, mas é trazido de outra parte, de um mundo extra-sensível
ao qual nós temos um acesso direto através do pensamento.” (NIETZSCHE,
Friedrich. A filosofia na época trágica dos gregos. Trad. Carlos A. R. de
Moura. In Os pré-socráticos. São Paulo: Abril Cultural, 1978. p. 151. Coleção
Os Pensadores.)
Para Parmênides, o Ser e a Verdade coincidem, porque é impossível a Verdade
residir naquilo que Não-é: somente o Ser pode ser pensado e dito. Assim, pode-se afirmar com segurança que Parmênides rejeita a experiência como fonte
da verdade, pois, para ele, o Ser não pode ser percebido pelos sentidos. O pensamento, para Parmênides, é o meio adequado para se chegar à essência das
coisas, ao Ser, porque os dados dos sentidos não são suficientes para apreender
a essência. Na impermanência e na opinião residem o não-ser, pois somente aquilo que é de
acordo com a sua verdade e a sua essência é o ser.
“Necessário é o dizer e pensar que (o) ente
é; pois é ser, e nada não é; isto eu te mando considerar. Pois primeiro desta
via de inquérito eu te afasto, mas depois daquela outra, em que mortais que
nada sabem erram, duplas cabeças, pois o imediato em seus peitos dirige errante
pensamento.” (PARMÊNIDES. Sobre a natureza. Trad. de José Cavalcante
de Souza. São Paulo: Nova Cultural, 1989, p. 88. Coleção. Os Pensadores.).
Não se pode dizer “não-ser é”, porque “não-ser” é impensável.
Dizer não-ser é não não-ser, é o mesmo que afirmar não-ser não é.
Após
a grande descoberta de Parmênides em relação à origem de todas as coisas, a
saber, que tudo advém do Ser, que é imóvel, indivisível e sobre o qual nada
mais perfeito pode ser pensado. O pensamento pré-socrático entra em crise e os
pensadores a partir daí passam a ser pluralistas, isso significa que, tendo
em vista que o Ser é indivisível, os pensadores passaram a nomear mais de um
elemento como constitutivo da origem do mundo.
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