quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Os regimes de Jacques Rancière

No lugar da palavra forma, Rancière usa a palavra “regime” para descrever modalidades de identificação da arte. O primeiro é o regime ético das imagens. Trata-se de saber que o modo de ser das imagens (das figuras enunciadas num texto, num filme, numa pintura) concerne no caráter (ethos) à maneira de ser dos indivíduos e das coletividades. A arte, nesse caso, tem uma finalidade específica de educar e de instruir pelo exemplo do padrão que é demonstrado, figurado.
É possível vislumbrar o teatro político usado por militantes comunistas e anarquistas para fins didáticos de conscientização da classe operária, ou ainda o herói do filme hollywoodiano que não solta à mão do vilão quando este está prestes a despencar de um desfiladeiro. As regras éticas-morais de uma comunidade cristã aparecem expressamente nesta cena, já que segundo a doutrina devemos perdoar àqueles que nos fizeram mal. O que se mostra nesta forma de arte é a “moral da história” que diz claramente em que tipo de caráter o público deve se espelhar.
O segundo regime é o poético ou representativo. Nesta forma de arte, é a noção de representação (mimesis) que organiza as maneiras de fazer, ver e julgar. A arte poética remonta o esquema descrito por Aristóteles como a representação (imitação) do mundo, no qual as regras específicas estão separadas e articuladas entre si. O grau de adequação de tais regras, em consonância com a atenção ao apelo moral da comunidade sensível, para a qual a obra é direcionada, define assim as maneiras de fazer e de apreciar as representações bem feitas. A configuração das regras nesse regime, ou forma de arte, é inevitável e conscientemente uma analogia com

a visão hierárquica global das ocupações políticas e sociais: o primado representativo da ação sobre os caracteres, ou da narração sobre a descrição, a hierarquia dos gêneros segundo a dignidade de seus temas, e o próprio primado da arte da palavra, da palavra em ato, entram em analogia com toda uma visão hierárquica da comunidade. (RANCIÈRE, 2005, p. 32).

Nesse momento, a função política da arte não está necessariamente nas imagens, nem no conteúdo veiculado, muito menos na assimilação deste, mas no formato que expressa alusivamente os lugares determinados para a ocupação de cada um. Isto é, há aquele que tem a palavra e aquele que deve ouvir o primeiro. Rancière contrapõe as duas primeiras formas com o regime estético da arte. Nascido na modernidade, este

não se faz mais por uma distinção no interior das maneiras de fazer, mas pela distinção de um modo de ser sensível próprio aos produtos da arte. A palavra ‘estética’ não remete a uma teoria da sensibilidade, de gosto ou do prazer dos amadores de arte. Remete, propriamente, ao modo de ser específico daquilo que pertence à arte, ao modo de ser de seus objetos. [...] as coisas são identificadas por pertencerem a um regime específico do sensível. Esse sensível [...] é habitado pela potência do pensamento que se tornou estranho a si mesmo: produto idêntico ao não-produto, saber transformado em não-saber, logos idêntico a um pathos, intenção do inintencional etc. (RANCIÈRE, 2005, p. 32).

O regime estético é o paradoxo encarnado na arte, ele desobriga esta a toda e qualquer regra específica e de toda hierarquia de temas, gêneros e artes. É uma forma que atenta contra as outras formas, contra as hierarquias. Na forma estética, a arte deixa de ser imitação, para ser criação, deixa de representar o mundo, para constituir o próprio mundo. Um mundo sem hierarquias, sem regras, sem qualquer preocupação com a constituição do caráter do público através da figuração das imagens.

A partir desta forma pode-se agora apresentar (sem precisar educar ou doutrinar) à política uma via alternativa, que paute não mais a exclusão, o totalitário e o homogêneo, mas a convivência com os diferentes, a coexistência dos desiguais que funcionam sob lógicas de regras dessemelhantes. Com a intenção de tornar a própria política mais própria, mais autônoma, e principalmente mais libertadora.

DEBATE: "A criminalização da cultura popular"





O debate intitulado " A criminalização da cultura popular", acontecerá no próximo sábado dia 23, às 10:30, no Centro de Defesa dos Direitos Humanos. A proposta é discutir as diferentes formas de criminalização da cultura popular nos dias de hoje, seja pelos meios de comunicação, pela via institucional e nos esteriótipos e preconceitos que demarcam a diferença entre as classes sociais. 
O debate contará com a presença:

Guilherme Pimentel - Advogado e fundador da APAFunk - Associação de Profissionais e Amigos do Funk

MC Leonardo - Junto com seu irmão, Junior, o MC Leonardo é histórico no funk brasileiro, autor de músicas como "Rap das Armas" e "Endereço dos Bailes". É também fundador da APAFUNK

Repper Fiell - Integrante do Visão da Favela Brasil, o Repper atua com Hip Hop, vídeos e rádio comunitária na favela Santa Marta

Gas pa: faz parte do "Alternativa Sindical Socialista". Rapper do grupo " O Levante" e do grupo " Lutarmada".

Alexandre Goulart (Mediador) - Psicólogo e educador do Programa ArteEducação/CDDH

Contamos com a presença de todos!!!

Página do evento no facebook:
https://www.facebook.com/events/653221324730539/?fref=ts

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Aula Pública: Em busca de uma cultura de PAZ, a necessária desnaturalização da violência #ocupacoreto


    • Quinta dia 14/11/2013
    • 19:00

  • Coreto da Praça da Liberdade, Petrópolis.

  • Mais uma atividade do Projeto #ocupacoreto com o professor de História Pedro Henry Cross, uma realização do Coletivo Vinagrete.


    A aula vai tratar fundamentalmente de violência do Estado, em todos os seus aspectos, das ausências (garantias constitucionais de direitos) às presenças (repressão policial sistemática). Vai buscar demonstrar que a violência é uma construção social e que pode e deve ser banida pra esfera dos incidentes, e não ser naturalizada como algo aceitável em larga escala.
    Por último, vai para o caminho de construir a noção de que só uma cultura de paz, baseada na ampliação dos direitos humanos é capaz de fazer um real enfrentamento a banalização dos recursos violentos.

    OBS: em caso de chuva o evento será adiado.

    www.coletivovinagrete.blogspot.com.br

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Gosto muito mais de mim

A música da comunidade, é a catarse de todos os sentimentos do próprio ser humano, dessa maneira ao longo dos anos nas comunidades de favela brasileiras, vemos o movimento do funk como instaurador de diversas realidades. Aquelas de combate, de denuncia, de revolta, de protesto, a partir daí se funda um universo de passagens para o funk melodi e o próprio funk ostentação. Mas o foco de nosso filme concentrar-se-á na sexualidade envolvida no funk, e mais, de que modo a mulher busca através do funk uma nova postura feminista. Assim, podemos desenvolver esse tema da sexualidade através da mulher que levanta novas bandeiras, como por exemplo: trair da mesma forma que o homem, transar da mesma forma que o homem. Levantando a bandeira dos direitos iguais para homens e mulheres, sempre retratando a realidade da mulher que é traída, que apanha do seu companheiro, que sofre e que precisa se libertar, precisa se vingar.
O filme não tem a pretensão de dizer a verdade que se passa na vida dessas mulheres, muito pelo contrário, queremos apenas mostrar um recorte de suas vidas. Com as ideias e as diferentes concepções da realidade que cada uma traz, que cada uma expõe em sua fala. Nossa intenção é de demonstrar a possibilidade de um novo olhar em direção a vivências diversas, sem pré-julgar de bom ou mal, belo ou feio.
Aproveitem!

Quero críticas depois!


domingo, 13 de outubro de 2013

Laranja Mecânica: a violência da sociedade + Curiosidades

Com seu livro, satírico, ultra-violento e pornográfico “Laranja Mecânica” de 1962, Anthony Burgess proporcionou a Stanley Kubrick mais uma de suas obras-primas. Laranja Mecânica chegou aos cinemas em 1971, narrando às desventuras do carismático sociopata, Alex (Malcolm McDowell) e seus droogs (Pete, Georgie e Dim) em uma Grã-Bretanha distópica e brutal.
Na época do lançamento a obra assustou, chegou a ser proibida, e deixou de ser exibida em muitos países, mas ao mesmo tempo foi elogiada pelos críticos. Kubrick sabia exatamente o que estava fazendo. A questão da violência naturalizada no filme é posta em questão tanto de forma social quanto psicológica.
Somos transportados para a mente do sujeito mais irado com tudo, completamente cínico, e dono de suas próprias razões.  Ele espanca, estupra e está para além de qualquer regra social. Alex é um ser amoral, que desconhece as mínimas e convenientes regras da sociedade. Alex é um jovem infrator que sai com sua gangue nas noites para aterrorizar mendigos, estuprar mulheres casadas e espancar seus maridos. Nos intervalos o grupo descansa em um bar, no qual tomam leite (ultraviolencemilk) emergindo dos seios de uma boneca metamórfica.
No entanto, em uma de suas aventuras, Alex é traído por seus companheiros da conceitual ultraviolência, e é pego pela polícia. Na prisão, converte-se à religião, e transforma-se numa espécie de aprendiz dos bons e respeitosos costumes, pela influência do padre/pastor/bispo do local.
Assim, ele se vê com a oportunidade de participar de um teste, uma cura, que traz de volta os conceitos morais e a saúde mental dos pacientes infectados pela doença social da revolta e da "consciência defeituosa" (o Método Ludovico). Alex se entrega a chance sair daquela teia de repressão psicológica. No entanto, o tratamento que ele passa é bem mais violento que qualquer um de seus atos cometidos anteriormente. As sequências do "cinema moral", a camisa de forças, os grampos que mantinham os olhos “glases” de Alex abertos todo o tempo, para não evitar que visse nenhuma das cenas. São uma comprovação da brutalidade e de uma tentativa de curar violência com mais violência.



A proposta de evidenciar essa cura, no "teatro de tentações", é extraordinariamente eficiente no que concerne identificar, através dos significados da pessoa doente, a devolução, ou reestruturação dos seus conceitos como pessoa pronta a residir no meio social. “O que importa é que funciona!”
Os diálogos construídos, a destreza dos ângulos (belamente fotografados), os cortes, a trilha e a magnífica interpretação de McDowell são primordiais para sustentar a proposta do filme. Laranja Mecânica como nenhum outro filme, delata a contribuição do homem como o simples e corrigível culpado de seus atos. Declarar a cura desses indivíduos por um tratamento tão doloroso quanto, é bem mais amargurante do que aceitar as disposições que assolam a sociedade de crime e porventura o castigo de suas colaborações em dignificar essas relações de culpabilidade.
O filme é tão impactante, pois modifica nossas visões morais. Kubrick é capaz de transformar uma cena de brutal violência, deixando-a encantadora e bela. Ao utilizar Beethoven na trilha sonora e abusar de cores e ângulos únicos, o diretor nos leva para um mundo que está fora de nossa realidade. Provocando uma oscilação de sentimentos inigualáveis, nos fazendo pensar sobre as falidas instituições da família, da política, da ciência, da religião e do próprio homem corroborado pelos sentimentos e prazeres passageiros. O mesmo prazer que leva à desconstrução de seu próprio Eu.

Agora algumas curiosidades sobre o filme:

O Korova Milk Bar foi o único set construído especialmente para o filme. Foi batizado pela palavra russa para vaca e suas esculturas foram baseadas no trabalho do escultor Allen Jones (uma as pinturas da parede apareceria novamente em O Iluminado, 1980). Stanley Kubrick fez com que os dispensers de leite fossem esvaziados, lavados e reabastecidos a cada hora, pois o leite coalhava sob as luzes do estúdio.


Alex cantar "Singing in the Rain" enquanto ataca o escritor e sua esposa não estava no roteiro. Kubrick passou quatro dias experimentando com a cena, pois a julgava muito convencional. Eventualmente, pediu a Malcolm McDowell se ele poderia dançar. Eles fizeram a cena novamente, desta vez com McDowell cantando e dançando a única música que ele conseguira lembrar na hora. Kubrick ficou tão impressionado que logo comprou os direitos do tema de Cantando na Chuva por US$ 10 mil. Quando McDowell encontrou Gene Kelly, anos depois, em uma festa, o ator veterano se retirou indignado. Kelly teria ficado profundamente decepcionado com a forma como sua versão de "Singing in the Rain" foi usada em Laranja Mecânica.
Kubrick pediu ao Pink Floyd para usar "Atom Heart Mother", faixa que abre o álbum hômonimo da banda, na trilha sonora. Porém, como o diretor queria uso ilimitado da composição, a banda rejeitou a proposta. Quando Alex visita a loja de discos, é possível ver nas prateleiras a trilha de 2001 - Uma Odisseia no Espaço Atom Heart Mother. Outros discos visíveis na loja são: Lorca, de Tim BuckleyAs Your Mind Flies, do Rare BirdDeja Vu, de Crosby Stills Nash & Young, The Transfiguration Of Blind Joe Death, de John FaheyMagical Mystery Tour, dos Beatles, After The Goldrush, de Neil YoungThe Chicago Transit Authority, do Chicago e In The Summertime, do Mungo Jerry.

Apesar de interpretar um adolescente de 15 anos (17 na última parte) Malcolm McDowell tinha 27 anos na época das filmagens. A língua falada por Alex e seus droogs é o Nadsat, uma mistura de inglês, russo e gírias londrinas.



O médico que acompanha Alex enquanto ele é forçado a assistir filmes violentos é um médico de verdade, presente para assegurar que os olhos de McDowell não secassem. Seus olhos foram anestesiados para que as cenas de tortura fossem filmadas sem tanto desconforto. Ainda sim, suas córneas foram arranhadas pelos grampos de metal.
A acelerada cena de sexo foi filmada em um único take de 28 minutos. Já a cena final do filme foi concluída depois de 74 tentativas.

Na cena em que Alex fala com o padre sobre a terapia Ludovico, é possível ver os prisioneiros marchando em círculo no pátio. A cena recria uma pintura de Vincent van Gogh, Prisioneiros se Exercitando (1890). 


 Enquanto gravava a cena no quarto de Alex, Kubrick achando que faltava um elemento para deixar a cena mais complexa descobriu que o ator Malcolm McDowell tinha medo de cobra. O diretor não pensou duas vezes, e colocou uma cobra como animal de estimação de Alex. A cena ficou mais tensa e vemos também outros elementos articulados à cobra (Basil), a imagem de Jesus dançando ao som de Beethoven. Logo abaixo da imagem da cobra, fazendo uma referencia ao pecado original.

sábado, 20 de abril de 2013

Curso “Ética e Produção de Si”


Curso “Ética e Produção de Si”, com o filósofo Luiz Fuganti

Nietzsche, Klossowski e Spinoza estão entre os principais pensadores abordados. As aulas serão semanais, com início em 26 de  abril. Inscrições abertas.
A Escola Nômade abriu inscrições para o curso “Ética e Produção de Si”, ministrado pelo filósofo Luiz Fuganti. Serão oito meses de aulas, com um encontro por semana, sempre às sextas-feiras, das 9h30 às 12h, a partir de 26 de abril.
Entre as temáticas trabalhadas estão questões como eterno retorno, dobras do desejo e continuidade diferencial da potência; experiência da imanência do desejo como modo seleto de efetuação da força do corpo e da mente; seleção por determinação do ser comum e escolha por composição intensa; singularidade, diferenciação e exconjuração do pré-destino, distinção entre moral e ética, criação de si.
Nietzsche, Klossowski e Spinoza estão na base do pensamento a ser desenvolvido. ‘São pensadores avançados, que alinham conceitos fundamentais para o curso, como a imanência do desejo, de Spinoza, a teoria do eterno retorno, de Nietzsche, e a releitura que Klossowski fez do “círculo vicioso” de Nietzsche, publicada em 1969’, diz Fuganti.
Não é necessário ser estudante de Filosofia ou ter tido contato anterior com estes três pensadores para participar do curso e se beneficiar das aulas. Todos os conceitos serão explanados de modo a propiciar uma reflexão bem fundamentada, a cada aula. “O objetivo é provocar a descoberta das potências que operam no coração do nosso desejo, atravessando corpo e mente, e que tanto podem nos escravizar, ameaçar e destruir, como nos levar a produzir a dimensão autônoma, singular, diferencial e afirmativa de nós mesmos, tornando-nos capazes de tomar a vida nas mãos e criar o próprio destino”, explica Fuganti.
As aulas serão em Perdizes, SP. Cada encontro tem a duração de 2 horas de aula expositiva e 30 minutos de conversação. Mais informações e inscrições pelo telefone (11) 3862.4234.

Serviço
Curso “Ética e Produção de Si”, com Luiz Fuganti
Duração: 32 aulas
1 aula por semana, sempre às sextas-feiras
Horário: 9h30 às 12h00
Início: 26 de abril
Investimento: 10 x R$ 480,00.
Inscrições abertas

Sobre Luiz Fuganti
O filósofo Luiz Fuganti ministra cursos desde 1986. Tem sua atuação relacionada a diuversas áreas artísticas, oferecendo consultorias para companhias de dança, teatro e produções de cinema. É idealizador de projetos fomentados pela Secretaria da Cultura e Ministério da Cultura, tais como: Cinema Como Fábrica de Visões; Ponto de Cultura Movimentos Nômades. Fundador da ONG Escola Nômade de Filosofia, instituição contemplada com os prêmios Cultura Viva e Cultura e Pensamento. Participou da elaboração do projeto nacional de formação de agentes da saúde, do Ministério da Saúde, além de realizar palestras com a temática da saúde mental. É autor do livro “Saúde, Desejo e Pensamento”, e de vários artigos em livros e revistas. Possui diversos cursos on-line e vídeos de palestras gratuitos disponíveis no portal www.escolanomade.org
Sobre a Escola Nômade
Um movimento nômade que promove a cultura das forças criativas entre os homens desde 1998, cultivando o pensamento da diferença através das artes, ciências, filosofia e educação. No curso de uma sucessão contínua de práticas que focam na potencialização dos impulsos ativos dos homens e da sociade, constituiu-se também como ONG, em 2002. A partir de então, passou a investir em parcerias, intercâmbios e redes sociais de modo recorrente. Para tanto, foram desenvolvidas algumas interfaces capazes de por em relação diferentes dimensões do homem em sociedade, institucionalmente não ligadas, fazendo coexistir de modo interativo diferentes meios sociais e culturais, por meio de planos de ação e estratégias transversais e que contam com suporte de alto e raro nível didático-cultural. Em meados de 2009, o movimento expandiu o alcance do trabalho, em parceria com o MinC, atuando como Ponto de Cultura em comunidades diversas. Projetos como “Cinema Nômade” e “Poder e Potência: Políticas de Gestão e Controle sobre a Vida nas Práticas de Justiça” receberam, respectivamente, os selos “Cultura Viva” e “Cultura e Pensamento”. Realiza atualmente o Cinema Nômade em comunidades com apoio do Proac/ICMS, e com a colaboração da rede pública de equipamentos de Educação e Cultura, tais como CEUs, CCJs, Bibliotecas e Escolas, com o apoio das Secretarias de Cultura do Munícípio e do Estado de São Paulo.

Escola Nômade – Informações aos jornalistas
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Cintia Ferreira – cintia.ferreira@eccopress.com.br

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Sobre o contexto filosófico


    Dizer que as indagações filosóficas são sistemáticas significa dizer que a Filosofia trabalha com enunciados precisos e rigorosos, busca encadeamentos lógicos entre os enunciados, opera com conceitos ou ideias obtidos por procedimentos de demonstração e prova, exige a fundamentação racional do que é enunciado e pensado.” (CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 13ª ed., São Paulo: Ática, 2008, p. 21).
 Mais que saber identificar a natureza das contribuições substantivas dos primeiros filósofos é fundamental perceber a guinada de atitude que representam. A proliferação de óticas que deixam de ser endossadas acriticamente, por força da tradição ou da ‘imposição religiosa’, é o que mais merece ser destacado entre as propriedades que definem a filosoficidade.” (OLIVA, Alberto; GUERREIRO, Mario. Pré-socráticos: a invenção da filosofia. Campinas: Papirus, 2000. p. 24).

Como fundamento teórico e crítico, a filosofia ocupa-se com os princípios, as causas e as condições do conhecimento que pretende ser racional e verdadeiro, com a origem, a forma e o conteúdo dos valores éticos, políticos, religiosos, artísticos e culturais. Mas acima de tudo a filosofia envolve a maior de todas as artes a de bem viver.





sexta-feira, 15 de março de 2013

O que é filosofia?


"Que é isto — a filosofia?, falamos sobre a filosofia. Perguntando desta maneira, permanecemos, num ponto acima da filosofia e isto quer dizer fora dela. Porém, a meta de nossa questão é penetrar na filosofia, demorarmo-nos nela, submeter nosso comportamento às suas leis, quer dizer, “filosofar”. O caminho de nossa discussão deve ter por isso não apenas uma direção bem clara, mas esta direção deve, ao mesmo tempo, oferecer-nos também a garantia de que nos movemos no âmbito da filosofia, e não fora e em torno dela. A palavra grega philosophía remonta à palavra philósophos."
Heidegger "O que é isto, a Filosofia?"

Nesse texto o filósofo nos põe a questão da filosofia desde dentro. O que isto quer dizer? Quer dizer que para fazermos filosofia precisamos fazer desde de dentro e não de fora. Ou seja, a filosofia só se dá no  próprio filosofar. Não podemos analisar a filosofia senão partindo dela mesma, devemos encontrar o caminho a ser percorrido estando no caminho. É possível falar do caminho descrever o caminho, mas só se sabe realmente dele quando se está inserido, quando a caminhada está instaurada, isto é, quando nele caminhamos. 
Então a filosofia se mostra para nós a medida em que nos ocupamos dela, de maneira profunda, desde dentro de nós! Só assim podemos conhecer o verdadeiro sentido da filosofia. Aprender filosofia é como aprender a nadar, não adianta ler manuais, pensar sobre a natação, se não pularmos na piscina. Procuremos desde de já nos encontramos com o filosofar dentro de nós mesmos. Busquemos nos por a caminho disto, disto que é a filosofia, entreguemo-nos ao filosofar para que assim o sentido da palavra filósofo seja realmente posto diante de nós. Não só como o entendimento daqueles que exerceram a filosofia, mas como verdadeiros amantes da boa vida que somos.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Alexander Baumgarten e a Estética


Nascido em Berlim em 17 de julho de 1714, Alexander Gottlieb Baumgarten, é um filósofo alemão que Estudou na Universidade de Halle. Em 1740 começou a lecionar na Universidade de Franfurt, onde permaneceu por 22 anos, e também deu aulas em Halle.
Influenciado pela sistematização filosófica de Christian Wolff (1679-1754) que se adaptou no esquema filosófico, e pelo ordenador didático do pensamento do barão Gottfried Wilhelm von Leibniz (1646-1716), suas obras foram Meditações Filosóficas Sobre a Questões da Obra Poética (1735), ou conhecida como Aesthetica (1750-1758), criando o termo "estética", designou a ciência que trata do conhecimento sensorial que chega à apreensão do belo e se expressa nas imagens da arte, em contraposição à lógica como ciência do saber cognitivo. Porém alguns afirmam que não foi o fundador da estética como ciência, e sim o filósofo e fundador da estética moderna. Outros afirmam que foi o fundador desta disciplina, bem como o primeiro a elaborar suas bases teóricas,considerando a estética o estudo do Belo, compreendido como domínio da sensibilidade, relacionada com a percepção, os sentimentos e a imaginação.
O conhecimento do Belo, para o filósofo, é visto como a perfeição do conhecimento sensível; no entanto, esta perfeição, se comparada ao saber estritamente racional, é considerada uma apreensão da realidade menos clara que o saber de tipo lógico. Elaborou um sistema, dividido em um ramo propedêutico, no qual se encontra a gnoseologia ou teoria do conhecimento; um ramo teórico, formado pela metafísica e pela física; e um ramo prático, que abrange a ética, a filosofia do direito.
Outras de suas grandes obras foram, Disputationes de nonnulis ad poema pertinentibus (1735), Métaphysique (1739) relatando conceitos de semiotica, semiologia philosophica e Esthétique (1750-1758) abordando temas como lógica, ética e teologia . 
Seus estudos obtiveram influência nos meios acadêmicos de sua época, mais tarde por Kant que utilizou seus livros como texto de aulas e usando seu termo estética, como denominação para o estudo gnosiológico da sensação e de suas formas apriorísticas de espaço e tempo, denominando de Estética transcendental, teve como discípulo direto, G. F. Meier.
Baumgarten deixa um legado de estudo, e a grande contribuição para a definição da estética, tendo o mérito de pioneirismo, em 26 de maio 1762 , morre em Frankfurt.

terça-feira, 5 de março de 2013

A Day in Life



Além de uma grande música dos Beatles, A Day in Life possui uma letra poética que transmite de uma maneira suave e tensa os problemas existenciais do ser humano. Como se fosse uma música da própria vida, que permeia entre tranquilidades, alegrias e tensões, tristezas. 
Mais do que tentar entender o que se passa quando ouvimos a música é preciso se deixar levar, se deixar comover pelo que a letra nos traz e para onde a melodia nos leva...
Aproveitem! Reflitamos! 

Como se põe o mundo em relação a filosofia?

"Um instinto vital, ignorado de si mesmo, odeia a filosofia. Ela é perigosa. Se eu a compreendesse, teria de alterar minha vida. Adquiria outro estado de espírito, veria as coisas a uma claridade insólita, teria de rever meus juízos. Melhor é não pensar filosoficamente. [...] Muitos políticos vêem facilitado seu nefasto trabalho pela ausência da filosofia. Massas e funcionários são mais fáceis de manipular quando não pensam, mas tão-somente usam de uma inteligência de rebanho. É preciso impedir que os homens se tornem sensatos. Mais vale, portanto, que a filosofia seja vista como algo entediante. Oxalá desaparecessem as cátedras de filosofia. Quanto mais vaidades se ensinem, menos estarão os homens arriscados a se deixar tocar pela luz da filosofia"

JASPERS, K. Introdução ao pensamento filosófico. 1975, p. 138.

Esse texto, por mais que tenha sido escrito a mais de 50 anos, se mostra completamente atual e oportuno para nos questionarmos sobre a pergunta: "o mundo precisa de filosofia?" Apesar de estarmos vivendo em um mundo mais livre e mais aberto para o pensamento reflexivo, a filosofia continua tendo dificuldade em ser aceita como importante na formação das futuras gerações. Ainda levará algum tempo até que a sociedade se dê conta de que a ausência da filosofia no processo educativo resulta em um modelo deficiente de formação. É preciso mudar essa realidade o quanto antes, para que não sejamos incapazes de enfrentar os duros desafios de uma sociedade tecnologicamente evoluída, mas moral e humanamente atrasada.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Aprender a duvidar - questionamentos filosóficos

""Não menos que se sabe, duvidar me apraz", afirma Dante. [...] A verdade e a razão são comuns a todos e não pertencem mais a quem as diz primeiro do que ao que as diz depois. Não é mais segundo Platão, do que segundo eu mesmo, que tal coisa se enuncia, desde que a compreendamos. [...] O proveito de nosso estudo está em nos tornamos melhores e mais avisados. É a inteligência que vê e ouve; é a inteligência que tudo se aproveita, tudo dispõe, age, domina e reina. Tudo o mais é cego, surdo e sem alma. Certamente nos tornaremos a criança servil e tímida se não lhe dermos a oportunidade de fazer algo por si. [...] saber de cor não é saber: é conservar o que se entregou a memória para guardar. Do que sabemos efetivamente, dispomos sem olhar para o modelo, sem voltar os olhos para o livro. Triste ciência a ciência puramente livresca. Platão afirma que a firmeza, a boa-fé, a sinceridade são a verdadeira filosofia. [...]
posto que a filosofia é a ciência que nos ensina a viver e que a infância como as outras idades dela podem tirar proveito, por que motivo não lha comunicaremos? [...] Buscai nela, jovens e velhos, um objetivo para vosso espírito; um alimento (sentido e esperança) [...] quem procede de outro modo parece dizer que ainda não é tempo de viver feliz, ou que já não o é."


MONTAIGNE, Ensaios. São Paulo: Nova Cultural. p. 75 - 77.



Se pensarmos bem no que Montaigne nos diz, podemos dizer que filosofar é antes de qualquer coisa aprender a viver. O filósofo é aquele que ama a sabedoria, não entendemos sabedoria como inteligência abstrata, mas como a capacidade de compreensão profunda da realidade na qual estamos inseridos. Assim, o filósofo busca uma vivência esclarecida o que possui uma relação direta com o saber viver. Dessa maneira, o filósofo procura o bem viver sabendo dar razões de suas ações e decisões.

Por isso, a filosofia não deve consistir em apresentar nenhum tipo de verdade absoluta definitiva. O objetivo principal é despertar a consciência para a reflexão aprofundada sobre a existência humana, na tentativa de ressignificar a vida através da autonomia.

O único mistério é haver quem pense no mistério...

Há Metafísica Bastante em não Pensar em NadaHá metafísica bastante em não pensar em nada. 

O que penso eu do mundo? 
Sei lá o que penso do mundo! 
Se eu adoecesse pensaria nisso. 

Que idéia tenho eu das cousas? 
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos? 
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma 
E sobre a criação do Mundo? 

Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos 
E não pensar. É correr as cortinas 
Da minha janela (mas ela não tem cortinas). 

O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério! 
O único mistério é haver quem pense no mistério. 
Quem está ao sol e fecha os olhos, 
Começa a não saber o que é o sol 
E a pensar muitas cousas cheias de calor. 
Mas abre os olhos e vê o sol, 
E já não pode pensar em nada, 
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos 
De todos os filósofos e de todos os poetas. 
A luz do sol não sabe o que faz 
E por isso não erra e é comum e boa. 

Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores? 
A de serem verdes e copadas e de terem ramos 
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar, 
A nós, que não sabemos dar por elas. 
Mas que melhor metafísica que a delas, 
Que é a de não saber para que vivem 
Nem saber que o não sabem? 

"Constituição íntima das cousas"... 
"Sentido íntimo do Universo"... 
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada. 
É incrível que se possa pensar em cousas dessas. 
É como pensar em razões e fins 
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados 
das árvores 
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão. 

Pensar no sentido íntimo das cousas 
É acrescentado, como pensar na saúde 
Ou levar um copo à água das fontes. 

O único sentido íntimo das cousas 
É elas não terem sentido íntimo nenhum. 
Não acredito em Deus porque nunca o vi. 
Se ele quisesse que eu acreditasse nele, 
Sem dúvida que viria falar comigo 
E entraria pela minha porta dentro 
Dizendo-me, Aqui estou! 

(Isto é talvez ridículo aos ouvidos 
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas, 
Não compreende quem fala delas 
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.) 

Mas se Deus é as flores e as árvores 
E os montes e sol e o luar, 
Então acredito nele, 
Então acredito nele a toda a hora, 
E a minha vida é toda uma oração e uma missa, 
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos. 

Mas se Deus é as árvores e as flores 
E os montes e o luar e o sol, 
Para que lhe chamo eu Deus? 
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar; 
Porque, se ele se fez, para eu o ver, 
Sol e luar e flores e árvores e montes, 
Se ele me aparece como sendo árvores e montes 
E luar e sol e flores, 
É que ele quer que eu o conheça 
Como árvores e montes e flores e luar e sol. 

E por isso eu obedeço-lhe, 
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?). 
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente, 
Como quem abre os olhos e vê, 
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes, 
E amo-o sem pensar nele, 
E penso-o vendo e ouvindo, 
E ando com ele a toda a hora. 

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema V" 
Heterónimo de Fernando Pessoa

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O movimento do mundo



"Como o menor grão de poeira é solidário de nosso sistema solar inteiro, carrega consigo neste movimento indiviso de descida que é a materialidade mesma, assim todos os seres organizados, do mais humilde ao mais elevado, desde as primeiras origens da vida até os tempos em que estamos, e em todos os lugares como em todos os tempos, só fazem tornar sensível aos olhos uma impulsão única, inversa ao movimento da matéria e, em si mesma, indivisível. Todos os seres vivos se prendem e todos cedem ao mesmo formidável impulso. O animal toma seu ponto de apoio à planta, o homem cavalga sobre a animalidade, e a humanidade inteira, no espaço e no tempo, é um imenso exército que galopa ao lado de cada um de nós, diante e atrás de nós, em um avanço comovente capaz de derrubar todas as resistências e superar muitos obstáculos, mesmo, talvez, a morte.”


- H. Bergson



Nossa humanidade como ressalta Bergson, filósofo e diplomata francês, é um grande exercício, exercício de vivência, exercício de ser. Nosso avanço é avassalador, ele promove movimentos distintos e eternos. Movimentos que não cessam, não têm fim... Simplesmente recomeçam num ciclo constante, o ciclo da vida.
Diante de todo esse movimento constante surgem as ideias, os sentimentos, as reflexões mais fundamentais. Fundamentais para nossa vida, para vida daqueles que nos cercam, para todo o mundo, numa espécie de força promotora de energias que guiam a nossa existência. Ou seja, nossas próprias forças, são capazes de gerar todo um mundo de cadências e experiências pessoais.
Vivemos buscando sempre as renovações necessárias, as quais nos motivam, nos fazem acordar todas as manhãs, nos despertam para a vida. Mas essas renovações não dependem de ninguém senão de nós mesmos. Somos máquinas incríveis, e nos recarregamos sozinhos. É claro que precisamos de companhia, do amor do próximo, queremos e carecemos do outro. No entanto o movimento vem de dentro de nós, nascemos sozinhos e morreremos sozinhos. A energia, a vontade, vem de dentro de cada um e é preciso amor para conosco, é preciso vontade de fazer. É preciso querer, não podemos mais esperar.
Uma das razões para hesitarmos em fazer algo que tem que ser feito é ninguém mais parecer incomodado com a situação. Isso se resume a algo fundamental nos seres humanos: somos animais sociais e aprendemos a forma correta de agir observando os outros. Entretanto, todas as revoluções aconteceram porque alguém decidiu fazer algo novo. Os atos dessa primeira pessoa "deram permissão" aos outros, ainda que para fazer algo que já queriam.
Vamos logo, o mundo está aí exigindo de nós uma postura, uma resposta. Vamos nos colocar, vamos viver de forma plena, vamos fazer a diferença. Sejamos esse movimento de forças que sacode a humanidade de seu esplendor. Vamos viver! Vamos ser felizes AGORA!

Um abraço aos meus novos alunos do Colégio São Judas Tadeu.