Na natureza selvagem foi baseado no bestseller com o mesmo nome, escrito por Jon Krakauer, e narra a verdadeira história de Christopher McCandless, um jovem americano farto de uma existência hipócrita e materialista, que após acabar a sua licenciatura com distinção, em vez de seguir uma provável carreira de sucesso, decide cortar todas as suas ligações com a família e a sociedade, partindo à aventura pela América, em busca de um lugar onde possa viver em harmonia com a natureza selvagem, com o objetivo de encontrar a essência do seu ser e a sua felicidade e concluir a “revolução espiritual”. O filme é incrível, Sean Penn vai intercalando a viagem de McCandless com breves flashbacks do seu passado, narrados em voz off pela irmã. Sean Penn exibe McCandless sem exageros e sem se mostrar tendencioso para o seu lado mais ‘místico’ ou idealista, permitindo a quem vê o filme, formular uma opinião de certa forma impessoal sobre a vida dele. McCandless é mostrado como uma pessoa que faz amigos com grande facilidade, com uma simpatia espontânea, capaz de deixar marcas nas vidas daqueles com que se cruza. Não esconde sua revolta interior, e exibe uma determinação inabalável sobre o objetivo final a atingir, o Alasca. A fotografia do filme é exuberante com paisagens lindas captadas ao longo da sua trilha “On the road’, no Grand Canyon e no Alasca. Salienta-se também a fantástica trilha sonora, da responsabilidade de Eddie Vedder, nos transporta para o caminho buscado por Alex, e para a natureza.
A partir de agora o texto será dedicado para falar de Christopher McCandless, assim, abordarei a história e o final do filme. Não é fácil haver consenso na forma de olhar para a opção de vida tomada por Christopher. Uns acusam-no de egoísmo e superficialidade, considerando a sua atitude de abandonar tudo, sem falar com a família, e partir para o desconhecido, como uma forma de satisfação pessoal e de idealismo ingénuo. Outros, como Jon Krakauer, o autor do livro, admiram o seu lado de aventureiro heróico, a sua coragem inabalável de viver melhor, com simplicidade, tirando partido das pequenas coisas da vida, vivendo aventuras e experiências inesquecíveis, longe de tudo e de todos mergulhando na natureza selvagem; sendo livre e feliz.
Logo após acabar o curso na Universidade de Atlanta, em 1990, Christopher doou os 24 mil dólares que tinha no saldo bancário a instituições de caridade, rasgou seus documentos e desapareceu sem avisar a família, numa viagem que não teria retorno. No seu primeiro contratempo, abandonou seu velho carro um Datsun amarelo, queimou todas as poucas notas que trazia consigo, e partiu a pé em direção a Oeste. Nessa aventura passou a apresentar-se com o nome Alexander Supertramp, partindo em busca de experiências novas e enriquecedoras, influenciado pelos ideais de Henry David Thoreau, Leon Tolstói e Jack London.
Alex viveu com um dor enorme e uma revolta profunda com a sociedade. Mas sobretudo, com uma raiva pelos pais e pela sua relação construída à base de falsas aparências. Essa dor e essa raiva tornaram-no insensível para conseguir escutar um conselho sábio que lhe foi transmitido por Ron Franz. Este homem, que viu nele um neto e afirmou ser capaz de o adotar, disse-lhe “ao perdoarmos é que estamos verdadeiramente a amar”.
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Ron Franz: I'm going to miss you when you go.
Christopher McCandless: I will miss you too, but you are wrong if you think that the joy of life comes principally from the joy of human relationships. God's place is all around us, it is in everything and in anything we can experience. People just need to change the way they look at things.
Ron Franz: Yeah. I am going to take stock of that. You know I am. I want to tell you something. From bits and pieces of what you have told me about your family, your mother and your dad... And I know you have problems with the church too... But there is some kind of bigger thing that we can all appreciate and it sounds to me you don't mind calling it God. But when you forgive, you love. And when you forgive, God's light shines through you.
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Os últimos 4 meses da sua aventura foram passados no Parque Nacional Denali, Fairbanks, no Alasca, sendo um destino que sempre quis atingir desde o início. Numa 5ª Feira de Abril de 1992, sem saber a hora ou o dia, Alex apanhou uma boleia até ao Stampede Trail, um caminho que levava ao interior do Alasca. A única comida que levava era um saco com cinco quilos de arroz. Dispunha de uma carabina com que tencionava caçar para se alimentar, e não levava outro equipamento que pudesse ser adequado ao objetivo a que se propunha, que lhe desse garantias de sobrevivência, no caso de algo correr mal.
No caminho que percorreu no Alasca selvagem, acabou por encontrar no meio do nada, um autocarro abandonado da Fairbanks Transit System. Chamou-o de ‘Ônibus Mágico’ e fez dele a sua casa durante os meses seguintes. Foi nesse ônibus que escreveu várias frases que serviram mais tarde para entender a sua forma de ver o mundo e a sociedade. Fez um diário que manteve na contracapa de vários livros, com cento e treze entradas. Alimentou-se do que trazia, de alguns animais que caçou com sucesso, e de bagas que colheu na natureza. Leu vários livros, rabiscando-os com pensamentos próprios sobre a vida.
Antes de tentar ir para o Alasca, Alex tinha tentado aprender a forma de conservar carne em condições naturais. Essa seria a única forma de ter comida suficiente para sobreviver numa zona inóspita e selvagem. Chegou a caçar um alce e tentou conservar parte da sua carne. Essa tarefa foi um desastre total e Alex acabou um enorme remorso por ter matado o animal, chamando de uma das maiores tragédias de sua vida.
Sabendo, então que não tinha maneira de se alimentar para garantir a sua sobrevivência, Alex decidiu fazer o caminho de regresso para sair do Alasca. Porém, por causa do degelo, um dos rios apresentava uma corrente que o tornavam intransponível no ponto onde ele o abordou. Se Alex tivesse levado um mapa detalhado dessa zona, que poderia ter adquirido em Fairbanks, poderia ficar a saber que esse rio seria facilmente transponível em outra área, ou que existia um abrigo nas redondezas abastecido com alimentos de emergência. Mas como objetivo dele era concluir uma revolução espiritual com a intenção de se isolar completamente da civilização, Alex fez seu próprio mapa, o que ele queria realmente era sobreviver através de seus recursos, e de sua capacidade de lidar com os contratempos. Seu objetivo era ficar sozinho com a natureza distante de qualquer contato ou dependência da sociedade. Alex diante daquele obstáculo se sentiu aprisionado no mundo selvagem que ele tanto queria viver e sentir. Perante esse cenário e sem experiência para encontrar alternativas, optou por regressar ao ‘Ônibus Mágico’ e enfrentar um destino pouco animador.
Christopher McCandless morreu a 18 de Agosto de 1992. Em 6 de setembro de 1992, dois trilheiros e um grupo de caçadores de alce acharam esta mensagem na porta do ônibus: "S.O.S. Preciso de ajuda. Estou aleijado, quase morto e fraco demais para sair daqui. Estou totalmente só, não estou brincando. Pelo amor de Deus, por favor, tentem me salvar. Estou lá fora apanhando frutas nas proximidades e devo voltar esta noite. Obrigado, Chris McCandless."
O seu corpo estava dentro de um saco de dormir, no ‘Ônibus Mágico’. À altura da sua morte, estima-se que o seu peso rondasse os 30Kg. A causa oficial da sua morte foi ‘Morte por Fome’.
Pode um ser humano viver sozinho, isolado de tudo e de todos, e mesmo assim sentir-se feliz? Tal como vem escrito num dos seus livros, sendo algo que Alex talvez tenha percebido tarde demais, “A Felicidade, para ser real precisa ser compartilhada”. No entanto, Alex morreu feliz; ele próprio escreveu numa entrada no diário, apercebendo-se do seu fraco estado de saúde, “Tive uma vida feliz, e agradeço ao Senhor. Adeus e que Deus vos abençoe a todos”.
Acredito que ele tenha transcendido completamente a maneira de viver dependendo só de si mesmo e da natureza. Muitos o acusam de egoísmo e superficialidade, considerando a sua atitude de abandonar tudo, sem falar com a família, e partir para o desconhecido, como uma forma de satisfação pessoal e ostentação, e até mesmo de suicídio. Krakauer e Sean Penn, e os seus próprios pais rejeitam o suícidio, pois Alex ao deixar a mensagem no ônibus pedindo que o resgatassem claramente não era um suicida, e sim um jovem em busca de uma aventura inesquecível e única. Judith Kleinfeld escreveu no Notícias Diárias do Ancoradouro que "muitos alasquenses reagiram com raiva a essa estupidez apelidada por muitos de "aventura". Tem-se que ser um completo idiota, para morrer de fome no verão a 30 km de distância da estrada do parque, disseram eles."
No entanto, Roman destaca o quão é difícil para qualquer pessoa aventurar-se e fazer o que Alex fez: "Claro, ele fez porcaria. Mas admiro o que estava a tentar fazer. Depender completamente da terra como ele fez, mês após mês, é extremamente difícil. Nunca o fiz. E aposto com vocês que muitas poucas, ou mesmo nenhumas das pessoas que chamaram incompetente a McCandless, também não o fizeram, pelo menos não por mais de uma semana ou duas. Viver no interior da floresta por um longo período, subsistindo apenas do que se consegue caçar e apanhar, a maioria das pessoas não sabe o quanto isso é difícil. E ele quase o conseguiu. Acho que não consigo deixar de me identificar com ele. E tenho a certeza de que há muitos outros habitantes do Alasca que tinham muito em comum com McCandless quando chegaram cá, incluindo muitos dos seus críticos. E talvez seja por isso que são tão severos com ele. Talvez McCandless lhes recorde demasiado como eram."
Alexander Supertrap ou Christopher McCandless, seja como for chamado é um entusiasta da vida e da liberdade. Não acredito em egoísmo muito menos em suícidio, ele enfrentou sozinho situações extremas e sobreviveu, ficou preso em uma armadilha da natureza da qual infelizmente não conseguiu escapar, mas viveu intensamente cada momento de sua vida. Aproveitou ao máximo quebrando as amarras da sociedade mergulhando na natureza selvagem. Vivendo momentos únicos e preciosos, não os compartilhou, no entanto transcendeu a existência em uma experiência de reflexão e entregas únicas.
“Two years he walks the earth. No phone, no pool, no pets, no cigarettes. Ultimate freedom. An extremist. An aesthetic voyager whose home is the road. Escaped from Atlanta. Thou shalt not return, 'cause "the West is the best." And now after two rambling years comes the final and greatest adventure. The climactic battle to kill the false being within and victoriously conclude the spiritual pilgrimage. Ten days and nights of freight trains and hitchhiking bring him to the Great White North. No longer to be poisoned by civilization he flees, and walks alone upon the land to become lost in the wild”
Alexander Supertramp May 1992
Auto-retrato encontrado na sua máquina fotográfica, tirado perto do momento da sua morte