Não é difícil identificar a corrupção que se faz presente em nossa sociedade, infelizmente difícil é chegar ao cerne dessa questão, ou melhor, à raiz do problema. Que não se encontra na democracia, muito pelo contrário, está onde menos se espera, em nosso cotidiano. A explicação para a causa desse problema remonta, certamente, às bases da formação de nosso país, que foram fincadas no coronelismo, no clientelismo e no patrimonialismo. Porém tantos ismos não dão conta de responder uma questão tão fundamental para nós nos dias de hoje. Nossa busca aqui é por vislumbrar algumas das origens desse comportamento no enfoque ético.
O famoso jeitinho brasileiro que resolve as coisas em favor próprio, muitas vezes quebrando regras, certamente dá origem a esse comportamento corrupto. Ultrapassar o sinal vermelho, furar fila, aproveitar as oportunidades a fim de conceder-se certos direitos e tratar o que é público como privado são exemplos de que a noção ética de nossa sociedade está corrompida. “Beneficiar-se” já se tornou um modo de ser das pessoas e das instituições, e assim podemos enxergar que essas atitudes já se enraizaram nas bases de nossa estrutura social, assumindo caráter de normalidade.
O que nos explica Immanuel Kant, filósofo do século XVIII, é que a ética deve ser uma regra perante a qual todos são iguais, mas infelizmente não é isso que testemunhamos hoje. A lista com as causas da corrupção é extensa e é fato que ela só existe no topo da pirâmide social porque está alicerçada em sua base. O correlato de tal aspecto é a sensação de impunidade que imobiliza o crescimento de nosso país, o qual parece estar preso a um “mau costume” sem fim. Não é fácil admitir que a raiz desse problema, que tanto nos incomoda encontra-se em nossas próprias atitudes. Agora fica a pergunta: ainda a tempo para consertar essa cultura da impunidade?
A corrupção não é fácil de ser combatida, mas a intenção deve ser levada adiante, por meio do desenvolvimento permanente de um ambiente hostil a qualquer tipo de ação corrupta e o direito a informação e educação, ambas de boa qualidade. Todos podem fazer muito a esse respeito se começarem pelo o que está ao seu alcance. Não adianta transferir essa responsabilidade para outros é nosso dever zelar por um país melhor, por um mundo melhor, e esse mundo melhor começa com a atitude de cada um de nós.
Júlia Casamasso Mattoso