segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Ética e corrupção


Não é difícil identificar a corrupção que se faz presente em nossa sociedade, infelizmente difícil é chegar ao cerne dessa questão, ou melhor, à raiz do problema. Que não se encontra na democracia, muito pelo contrário, está onde menos se espera, em nosso cotidiano. A explicação para a causa desse problema remonta, certamente, às bases da formação de nosso país, que foram fincadas no coronelismo, no clientelismo e no patrimonialismo. Porém tantos ismos não dão conta de responder uma questão tão fundamental para nós nos dias de hoje. Nossa busca aqui é por vislumbrar algumas das origens desse comportamento no enfoque ético.
O famoso jeitinho brasileiro que resolve as coisas em favor próprio, muitas vezes quebrando regras, certamente dá origem a esse comportamento corrupto. Ultrapassar o sinal vermelho, furar fila, aproveitar as oportunidades a fim de conceder-se certos direitos e tratar o que é público como privado são exemplos de que a noção ética de nossa sociedade está corrompida. “Beneficiar-se” já se tornou um modo de ser das pessoas e das instituições, e assim podemos enxergar que essas atitudes já se enraizaram nas bases de nossa estrutura social, assumindo caráter de normalidade.
O que nos explica Immanuel Kant, filósofo do século XVIII, é que a ética deve ser uma regra perante a qual todos são iguais, mas infelizmente não é isso que testemunhamos hoje. A lista com as causas da corrupção é extensa e é fato que ela só existe no topo da pirâmide social porque está alicerçada em sua base. O correlato de tal aspecto é a sensação de impunidade que imobiliza o crescimento de nosso país, o qual parece estar preso a um “mau costume” sem fim. Não é fácil admitir que a raiz desse problema, que tanto nos incomoda encontra-se em nossas próprias atitudes. Agora fica a pergunta: ainda a tempo para consertar essa cultura da impunidade?
A corrupção não é fácil de ser combatida, mas a intenção deve ser levada adiante, por meio do desenvolvimento permanente de um ambiente hostil a qualquer tipo de ação corrupta e o direito a informação e educação, ambas de boa qualidade. Todos podem fazer muito a esse respeito se começarem pelo o que está ao seu alcance. Não adianta transferir essa responsabilidade para outros é nosso dever zelar por um país melhor, por um mundo melhor, e esse mundo melhor começa com a atitude de cada um de nós.


Júlia Casamasso Mattoso

sábado, 12 de fevereiro de 2011

A filosofia e o futuro ecológico.






Primeiramente precisamos nos perguntar qual é o ponto de partida que devemos tomar para pensar a tarefa da filosofia diante de tantos desafios ambientais de nossa sociedade atual. E, principalmente, qual deve ser a função da filosofia para reordenar a relação entre homem, natureza e sociedade. Através dessas questões podemos remontar diversas reflexões, mas acredito que a mais urgente diz respeito ao paradigma dominante que instrumentalizou o mundo. Acerca do qual, o homem transformou o mundo em um objeto de consumo e de posse, sendo incapaz de se contemplar como integrante da natureza.
Apesar da preocupação com o meio ambiente ter ocupado diversos cenários, como: escolas, alguns programas de televisão, e entrando em foco após desastres naturais de grande porte. Não é o suficiente, pois sobram opiniões, mas faltam atitudes. Devemos analisar o problema como um todo, pois como nos diz Moacir Gadotti, pela primeira vez na história da humanidade, podemos realmente destruir a vida do planeta. E não se trata de uma destruição por guerras e/ou armas nucleares, mas pela forma como estão sendo manejadas as questões ambientais, e como utilizamos os recursos naturais. Esquecemos-nos que a natureza não é inesgotável, que seus recursos estão acabando, e precisamos urgentemente aprender a viver de outra forma.
Essa possibilidade de autodestruição nunca mais desaparecerá da história da humanidade, afinal daqui para frente esse problema vai tomar proporções cada vez maiores, e todas as gerações serão confrontadas com a tarefa de resolvê-lo. Todo esse processo nos mostra que além de estarmos destruindo os sistemas de vida e os processos ecológicos do planeta, nosso modelo de sociedade não é mais viável e tende a um fim. Por isso, é mais que necessário a criação de políticas publicas para que estas questões não permaneçam no âmbito de menor importância, mas ocupem o lugar central no debate sobre o futuro que queremos construir.

Júlia Casamasso Mattoso

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O filósofo na praça

A praça publica é, sem dúvidas, uma das imagens que se identifica inteiramente com a filosofia em sua origem. E essa imagem nos faz lembrar da figura enigmática de Sócrates, que andava pela praça de Atenas discutindo com os jovens. A intenção de Sócrates era “picar” as pessoas com indagações elementares, para que elas passassem a ver o mundo de outra forma, isto é, ver o incomum no comum.
Sócrates era um filósofo no mais profundo sentido da palavra, não só amava e buscava o conhecimento verdadeiro, mas acreditava que uma vida sem reflexão de suas próprias crenças e opiniões, não valia a pena ser vivida. E apesar de não ter escrito nada sobre seu pensamento, foi capaz de transmiti-lo a seus discípulos, transformando a juventude ateniense.
Provocar os jovens pra que se deixasse levar pelas questões acerca de seu próprio cotidiano: quem é você? De onde veio? Para onde vai? A fim de transformar a realidade, causando uma mudança de perspectiva, uma ruptura com o normal. Chegando a questões mais elementares como: o que é a justiça? O que é a virtude? Fazendo com que o pensamento crítico se tornasse presente na vida de todos. A intenção de Sócrates era mostrar que o exercício livre do pensamento não precisa possuir instituição e local definidos, os quais podem, até mesmo, impedir a livre circulação de ideias e não se constituir, necessariamente, nos melhores espaços de formação.
O exemplo socrático do filosofar em praça publica, num livre-mercado de ideias, nos mostra que a fecundidade do diálogo que busca questionar a vida como um todo, não reside na conclusão que podemos chagar. Mas sim na inconclusão, ou seja, o que importa não é a solução das questões, mas ter a consciência do problema da existência humana. Ter a consciência de que se questionar é preciso independente de se chegar a respostas concretas e verdadeiras.
Esse grandioso filósofo sempre nos ensina que devemos garantir o exame, a reflexão sobre a nossa existência, não podemos dar a outrem esse poder. Devemos procurar o conhecimento verdadeiro, mesmo sabendo que talvez nunca alcancemos a verdade absoluta sobre todas as coisas. Mas a busca é inevitável.


Júlia Casamasso Mattoso