quarta-feira, 21 de março de 2012

Beleza total e embrutecimento

É bastante evidente que as preocupações estéticas nos dias atuais encontram-se muito em alta. Podemos observar isso desde as coisas mais simples até as mais sofisticadas, que absorvem milhões e milhões de dólares. No mundo de hoje tudo está cercado e permedado pela aparência, e tudo parece ser compreendido e julgado de acordo com isso. Torna-se desnecessário mencionar o quanto isso transforma os objetivos e sentidos da vida humana.
Sendo antes os santos e os intelectuais modelos de vida, nos dias de hoje os modelos estão reduzidos a beleza material, a beleza física e juvenil. O padrão a ser buscado é o corpo atraente e bem delineado, mesmo as custas de exercícios físicos sem fim e toneladas de cirurgias plásticas. Tais buscas intermináveis por uma perfeição estética são indicios de que nossa época coloca a beleza material na frente da organização da vida.
O processo de "estetização" é também estratégicamente econômico: através da associação com a estética, tudo se torna vendável e sedutor. Os produtos são dotados de embalagens atrativas, as vitrines são produzidas para seduzir o olhar e os meios de comunicação de massa hipnotizam com uma overdose de efeitos, que pretende vender até mesmo o que não se pode comprar.
É preciso destacar que esse processo não é superficial ou um simples processo para tornar a vida mais agradável, fácil e os espaços mais atraentes. Pelo contrário, suas consquências atingem o modo como comportamentos e relações são organizados, visto que reforça a mensagem de que tudo está disponível para o prazer individual. Na medida em que tal lógica é adotada, o estético fica reduzido às experiências de prazer imediato. Assim, o indivíduo permanece acostumado com essa lógica, acaba por só aceitar aquilo que agrada imediatamente, tornando-se incapaz de tolerar o que vai de encontro com o que acredita. E principalmente de aceitar como bom e belo aquilo que não traz retorno imediato nas sensações. Uma vez que os estímulos estéticos convidam simplesmente ao agrado e à satisfação imediata, o resultado é a perda de interesse por aquilo que não é suficiente para atender aos desejos narcisistas.


"Na sociedade de consumidores, ninguém pode se tornar sujeito sem primeiro virar mercadoria, e ninguém pode manter segura sua subjetividade sem reanimar, ressuscitar e recarregar de maneira perpétua as capacidades esperadas e exigidas de uma mercadoria vendável. A 'subjetividade' do 'sujeito', e a maior parte daquilo que essa subjetividade possibilita ao sujeitatingir, concentra-se nun esforço sem fim para ela própria se tornar, e permanecer, uma mercadoria vendável." (BAUMAN, Z. Vida para o consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.)

"Agradável é o que apraz aos sentidos na sensação. [...] assim não se poderia pretender deles nenhuma outra avaliação das coisas e de seu valor do que consiste no deleite qu elas prometem." (KANT, I. Crítica da faculdade do juízo. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995.)

Bibliografia:

SCHILLER, F. A educação estética do homem: numa série de cartas. 4 ed. São Paulo: Iluminuras, 2002.

CASAGRANDA, E. A., TROMBETTA, G. L., PICHLER, N. (org.) Filosofia na praça: conhecimento ética e cultura. Passo fundo: Ed. UPF, 2009.

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